Pelo menos 150 mil toneladas métricas de feijão bóer estão retidas nos portos moçambicanos à espera de autorização das Alfândegas para a sua exportação para a Índia, provocando um agravamento de preços no país asiático.
“Os stocks estão atualmente retidos em armazéns portuários e os vendedores estão a incorrer em elevados custos de armazenamento e de fumigação”, disse Suhas Chougule, director-executivo da MozGrain Lda, uma empresa subsidiária em Moçambique da firma Ma’aden Saudi Arabia, que opera a partir da cidade Beira.
“Apesar de termos todos os documentos de exportação exigidos por lei, os nossos 200 contentores estão encalhados. As alfândegas moçambicanas não estão a conceder a permissão e nem dão qualquer explicação”, acrescentou Chougule, citado pela Reuters.
O atraso na exportação de feijão boer “encalhado” nos portos moçambicanos fez disparar em cerca 10% os preços na Índia, em dois meses, devido à redução da oferta, agravando o custo de alimentos, quando o país asiático tem eleições locais este ano e as gerais em 2024.
Contudo, há uma nota positiva: alguns exportadores foram autorizados a colocar na Índia 50 mil toneladas de feijão boer, relataram comerciantes.
Em Outubro deste ano, o Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural (MADER) assinalou que cancelou certificados fitossanitários para alimentos a partir de 22 de Setembro, depois de detectar que 400 destas autorizações eram falsas ou ambíguas, avançando que o licenciamento foi retomado. O documento do MADER foi libertado horas depois de terem começado a circular em Maputo, sobretudo, nas redes socais, suspeições de que o cancelamento das exportações visavam beneficiar um “grande empresário” baseado em Nampula, que possui ligações com o partido Frelimo. Assinalava-se que o feijão bóer era usado para financiamento político ao partido governamental, sobretudo, nestas controversas eleições autárquicas, que deram, oficialmente, vitória à Frelimo nas 64 das 65 autarquias no país. A produção de feijão bóer em Moçambique está centrada no eixo centro-norte.
A Índia espera uma queda na sua produção de feijão bóer na época 2023/2024, devido a chuvas fracas nas áreas que mais cultivam este produto, em Agosto e Outubro. A Índia é o principal produtor mundial de feijão bóer, com pouco mais de 22% da produção global, sendo este o alimento básico da sua população. O dal é a shima dos indianos.
O país asiático vai precisar de aumentar a importação de feijão bóer para 1,2 milhões de toneladas até 31 de Março de 2024, depois de ter importado 894.420 toneladas na época anterior, de acordo com estimativas do governo.
É oportunismo de Moçambique
– Operador indiano
Satish Upadhyay, um importador de Mumbai, refere que os atrasos nas importações aumentaram em 100 dólares o preço por tonelada nas últimas semanas.
“Moçambique sabe que Índia está com uma necessidade desesperada de feijão bóer este ano, devido a uma colheita fraca e está a tirar proveito da situação”, afirmou.
Recentemente, Rohit Kumar Singh, responsável indiano para a área de consumo, expressou preocupação junto de Armindo Pereira, embaixador moçambicano em Nova Deli.
O diplomata moçambicano assegurou aos indianos que seriam desencadeados os passos necessários para exportações céleres de feijão bóer, de acordo com um comunicado do governo indiano do dia 27 de Outubro.
Mas a situação não mudou, de acordo com Bimal Kothari, presidente da Grains Association, said.
“Moçambique parece estar a explorar a escassez de abastecimento da Índia, atrasando os carregamentos e tornando refém a segurança alimentar indiana”, afirmou Kothari.
Efeito negativo – CTA
O presidente da Confederação das Associações Económicas (CTA), Agostinho Vuma, disse nesta quinta-feira que as dificuldades de acesso ao certificado fitossanitário estão entre os constrangimentos à comercialização agrícola, incluindo de feijão bóer.
“Chamamos a atenção ao governo que estes seis constrangimentos podem afectar, desde o próprio feijão bóer, gergelim e sucessivamente castanha de caju e outros”, afirmou Vuma, falando no Economic Briefing, um evento em que a associação patronal moçambicana faz a radiografia da situação económica. Além do acesso ao certificado fitossanitário, as dificuldades incluem ainda a gestão das quotas de exportação de feijão bóer, acrescentou