A mineradora anglo-australiana Rio Tinto concordou em pagar 28 milhões de dólares de multa a um tribunal norte-americano, que a acusava de fraude por ter escondido os prejuízos do investimento de carvão em Moçambique.
De acordo com a imprensa especializada, que cita a decisão do tribunal federal de Manhattan sobre o processo intentado pela SEC, equivalente à Comissão de Mercado e Valores Mobiliários, a Rio Tinto vai pagar cerca de 28 milhões de dólares, se a juíza Analisa Torres concordar com os termos do acordo.
A Rio Tinto compromete-se também a não inutilizar os registos e manter o cumprimento das leis norte-americanas sobre o mercado de acções, bem como contratar um consultor independente que garanta que os prejuízos com a operação em Moçambique são devidamente contabilizados.
O antigo presidente executivo da empresa Tom Albanese concordou pagar 50 mil dólares de multa para terminar o processo, não tendo nem a Rio Tinto nem o empresário admitido qualquer irregularidade.
Em causa está a acusação de que Tom Albanese e o seu director financeiro tentaram esconder os prejuízos da operação em Moçambique, não informando os investidores sobre as perdas que a empresa suportou na década passada e que acabaram por determinar a venda por um valor muito abaixo do que diziam valer.
Em Outubro de 2017, a SEC acusou a empresa mineira Rio Tinto e dois antigos executivos de fraude por inflacionarem o valor de activos de carvão adquiridos por 3,7 mil milhões de dólares e vendidos alguns anos mais tarde por 50 milhões de dólares.
Os activos foram adquiridos a Riversdale, em 2011, e vendidos, em 2014, a International Coal Ventures Private Limited (ICVL), uma joint venture indiana, por apenas 50 milhões de dólares. Os activos incluíam a mina de carvão de Benga e outros projectos na província de Tete, centro de Moçambique.
A queixa da SEC, que foi apresentada no tribunal federal de Manhattan em 2017, alega que “a Rio Tinto, o seu antigo presidente executivo Thomas Albanese e o seu antigo director financeiro Guy Elliott não seguiram as normas de contabilidade e as políticas da empresa para avaliar e registar com precisão os seus activos”, lê-se no resumo da acusação da SEC, disponível no site do regulador.
Pelo contrário, acrescenta, “quando o projecto começou a ter problemas atrás de problemas, resultando no rápido declínio do valor dos activos, procuraram ocultar ou atrasar a divulgação da natureza e extensão dos desenvolvimentos adversos ao Conselho de Administração da Rio Tinto, ao Comité de Auditoria, aos auditores independentes e aos investidores”.
A empresa continuou a avaliar a mina em mais de 3 mil milhões de dólares ao longo dos anos de 2011 e 2012, quando já sabia que podia vender apenas “cerca de 5%” do carvão que antecipara e que a mina tinha “significativamente menos carvão e de pior qualidade” do que tinha assumido.
A mineradora acabou por vender a mina por apenas 50 milhões de dólares em 2014, depois de o seu director ter sido afastado do cargo, no seguimento de uma reavaliação dos bens da empresa.
Além de uma produção abaixo do previsto e da descida do preço do carvão nos mercados internacionais, contribuiu para a desvalorização da mina uma decisão do Governo moçambicano relativamente ao transporte do material, que impedia, na prática, a exportação através de barcaças pelo rio Zambeze.