Os receios de regionalização do conflito entre Israel e Hamas aumentaram nos últimos dias, na sequência da morte de líderes do movimento islamita palestiniano e da milícia Hezbollah (que significa exército de Deus em árabe), no Líbano.
As hostilidades entre as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) e o Hezbollah têm vindo a escalar, com o exército israelita a realizar incursões contra supostos alvos no Líbano e a milícia a lançar roquetes contra o norte de Israel.
A recente vaga de confrontos entre as duas partes têm um elevado potencial de deflagração regional, tendo em conta que o “exército de Deus” é uma facção apoiada pelo Irão, um arqui-inimigo de Israel.
Por outro lado, as IDF realizaram ataques cirúrgicos contra alvos na Síria, alargando o raio da sua actuação.
Um outro factor de risco de internacionalização do conflito são as acções que a milícia iemenita Houthis, também apoiada pelo Irão, tem levado a cabo contra navios no Mar Vermelho, uma importante rota do comércio internacional.
As investidas dos Houthis já desencadearam uma forte reação de uma coligação militar de algumas das maiores potências, incluindo EUA e Inglaterra, e já há sinais de que pode vir a registar-se uma subida nos preços dos combustíveis, devido ao condicionamento da navegação marítima naquele itinerário.
Os EUA já alertaram que vão reagir com veemência contra a ameaça à actividade marítima no Mar Vermelho, enquanto os Houthis já avisaram que os seus ataques contra navios supostamente ligados a Israel não vão cessar.
O secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, fez um périplo por alguns países do Médio Oriente, para obter garantias de que a guerra entre Israel e Hamas não descambe para outros territórios da região.
O apoio indefectível da administração Biden às actuais acções militares de Israel na Faixa de Gaza – já descritas por várias entidades como genocídio-, gerou uma reacção fria à iniciativa de Blinken desta semana no Médio Oriente.
A temperatura subiu ainda mais, depois de sectores ultraortodoxos do actual Governo israelita terem defendido a expulsão de palestinianos da Faixa de Gaza, repetindo o “nakba”, o êxodo forçado registado no território, na sequência da guerra israelo-árabe de 1947.
O secretário de Estado norte-americano assegurou que os EUA rejeitam liminarmente a ideia de expulsão de palestinianos da sua terra, sustentando que querem a criação de medidas conducentes à fundação de um Estado palestiniano, dentro da fórmula “dois Estados”.
Enquanto não há avanços na frente política e diplomática, a chacina de civis na Faixa de Gaza continua e, de acordo com o Ministério da Saúde do Hamas, já morreram mais de 20 mil pessoas, maioritariamente crianças.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já avisou que os serviços de saúde da Faixa de Gaza já colapsaram e quase deixou de haver capacidade de atendimento a vítimas dos ataques de Israel.
Paradoxalmente, uma das principais razões para os ataques de Israel ainda não foi atingida na plenitude: dezenas de reféns israelitas tomados pelo Hamas no sangrento ataque do dia 07 de Outubro ainda não foram libertadas.
Os reféns até agora libertados voltaram para casa, num esquema de troca de prisioneiros com o Hamas, conseguido através de negociações mediadas pelo Qatar.
Um outro elemento desconcertante é que três reféns israelitas que tinham conseguido escapar do Hamas acabaram mortos precisamente por militares do seu país, que confundiram as vítimas com militantes palestinianos, apesar de terem acenado bandeiras brancas, como símbolo de rendição e de paz