A província de Manica continua a ser um “corredor fértil” de imigração ilegal, para alimentar um chorudo negócio de tráfico de seres humanos, cuja maioria das vítimas é oriunda da África central e do norte, além da Ásia, que redes internacionais de imigração clandestina tenta os introduzir na África do Sul através das fronteiras moçambicanas, sob falsas promessas de emprego.
Esta semana a Polícia da República de Moçambique (PRM) em Manica anunciou a detenção de um agente da corporação por integrar a rede internacional de imigração clandestina ao ter sido flagrado a guiar 82 imigrantes etíopes, que seriam traficados para a África do Sul.
Ao que apurou o SAVANA, o superintendente da Polícia, de 42 anos, afecto ao comando distrital da PRM no distrito de Macate, é suspeito de ser o facilitador da entrada no país dos 82 imigrantes ilegais a partir da fronteira com o Malawi, e que devia entregar a um outro guia do Zimbabwe na fronteira de Machipanda, a principal fronteira terrestre entre Moçambique e Zimbabwe.
Os 82 imigrantes etíopes seguiam disfarçados num camião cavalo articulado, com matrícula sul-africana, especializado no transporte de frutas e legumes.
O camião tinha partido de Tete, na fronteira com o Malawi e atravessou pelo menos cinco postos de fiscalização rigorosos nas províncias de Tete (Zóbue, Moatize e Changara) e Manica (na ponte sobre o rio Luenha e Vanduzi), e os imigrantes só viriam a ser encontrados em Messica, a cerca de 40 quilómetros da fronteira com o Zimbabwe, durante uma operação de várias forças especializadas.
Este é o segundo elemento da rede que é detido em nove meses pela Polícia em Manica, a província que continua a lutar com uma crescente onda de imigração ilegal, que as autoridades atribuem a inovações das redes de tráfico e porosidades das linhas de fronteira.
O porta-voz dos Serviços Provinciais de Migração de Manica, Abílio Mate, afirmou que as detenções ocorreram no âmbito da operação Benguerra e envolveu várias forças policiais, que travam uma renhida luta para tirar Manica da lista de “corredor fértil” para traficantes de seres humanos.
Os imigrantes foram “interpelados e durante a revista foram descobertos 82 imigrantes etíopes, e após a perícia foi se concluir que entraram clandestinamente no território nacional”, precisou Abílio Mate.
“Decorrem trâmites para o repatriamento ao país de origem, mas antes, ainda se investiga as circunstâncias da entrada no território nacional, além do transportador, que teria se colocado em fuga quando se apercebeu da presença policial”, frisou Abílio Mate.
Redes de imigração
Um dos imigrantes ora detidos disse que os guias lhes mantiveram durante muito tempo no Malawi, sem acesso à água e comida, supostamente porque havia um controlo cerrado na rota que seria usada para chegar a África do Sul, a partir de Moçambique, tendo por isso optado por Zimbábwe.
Partes da Etiópia foram atingidas por inundações, secas e conflitos devastadores, criando uma grave crise humanitária, situação que está a forçar muitos a caírem nas mãos das redes de imigração clandestina que cobram somas altas para uma viagem com promessa de emprego na África do Sul.
Um dos imigrantes contou ao SAVANA que a rede de tráfico chega a publicitar as viagens, e cobra entre 3.000 a 8.000 dólares norte americanos por pessoa, em viagens a ser feitas de barcos, comboios e camiões, e em cada país de trânsito há sempre um guia local (cuja foto é entregue previamente a um dos líderes do grupo) que os conduz para as travessias ilegais das fronteiras.
Entretanto, o sociólogo moçambicano, Abílio Mandlate, observa que um dos maiores problemas que o país enfrenta é a fraqueza das instituições no cumprimento das missões para as quais foram criadas, desde as instituições de educação até as de segurança.
“A consequência disso muitas vezes é o que a gente assiste, quando os agentes das instituições que deveriam estar a exercer uma determinada função, fazem exactamente o contrário daquilo que deveriam fazer, e a polícia é um exemplo disso, já vimos agentes da Polícia envolvidos em casos de raptos, extorsão, assaltos, corrupção”, afirmou Abílio Mandlate, apelando para um tratamento transparente do agente ora detido.
As rotas
Lembre-se que em Março do ano passado um indivíduo moçambicano foi detido na cadeia de máxima segurança em Chimoio, acusado de integrar uma rede internacional de imigração clandestina, e foi flagrado a guiar três cidadãos do Nepal, que pretendiam chegar a Maputo e depois a África do Sul.
Em Maio do mesmo ano, um grupo de 15 imigrantes ilegais etíopes foram encontrados à deriva num cemitério tradicional no distrito de Zumbo, na província moçambicana de Tete, que faz fronteira com a Zâmbia e o Malawi.
Já em 2022, a Polícia encontrou outros 99 cidadãos malawianos num camião cisterna, mas o caso mais grave de imigração ilegal foi a descoberta, em Março de 2020, de 64 imigrantes etíopes mortos por asfixia num contentor de camião que tinha partido do Malawi. Catorze sobreviveram a tragédia.
Moçambique tem sido usado como corredor por imigrantes etíopes, paquistaneses, bengalês e de outros países que pretendam chegar a África do Sul, o país mais industrializado no continente africano.