A nomeação, na quarta-feira, de Eduardo Namburete para o cargo de embaixador de Moçambique na Argélia é a segunda de um político da oposição para a função em Moçambique e é mais um trunfo da desapontante retórica da linha de inclusão de Filipe Nyusi.
Namburete, deputado da Renamo na Assembleia da República, vai ocupar o cargo, depois de em 2022 Filipe Nyusi ter apontado Raul Domingos, antigo número dois do principal partido da oposição, para o posto de embaixador de Moçambique na Santa Sé (Vaticano).
O novo embaixador em Argel protagonizou um terramoto político, quando em 2004 anunciou a sua adesão à Renamo, uma “autêntica traição” para a Frelimo, dado que Eduardo Namburete era director da Escola de Comunicação e Arte da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), a mais antiga e maior do país, instituição sobre a qual o partido no poder implantou tentáculos.
Algumas semanas após essa informação ciclónica, Eduardo Namburete foi afastado do cargo de director do Gabinete de Imprensa da UEM, decisão vista em muitos círculos como represália pela filiação ao novo partido.
Deputado da Assembleia da República, desde 2005, Eduardo Namburete tem pautado pela discrição, mas nas suas raras aparições prima por pronunciamentos devidamente calculados, articulados e equilibrados.
Como académico e docente universitário, é um dos intelectuais do principal partido da oposição, escapando à colação a qualquer facção que possa permear a Renamo.
Integrou diversas delegações do partido da “perdiz” nas negociações com o governo, para o fim das “hostilidades” militares que têm pautado as relações entre a Frelimo e o principal partido da oposição, sempre que atingem a ruptura nas suas divergências.
Depois de Filipe Nyusi ter gorado as expectativas de uma governação e liderança do Estado inclusivas – as boas ideias não têm cor partidária, disse-o no discurso de investidura em Janeiro de 2015, o actual presidente da República volta a dar agora um “cheirinho” de um projecto que falhou, quando falta um ano para deixar a Ponta Vermelha.
Muitos comentadores e analistas têm acusado Filipe Nyusi de ter intensificado os apetites repressivos e autoritário da Frelimo, rasgando o compromisso de um “Moçambique para todos”.
A nota de imprensa divulgada pela presidência da República na quarta-feira, avança ainda que Filipe Nyusi nomeou Fortunato Albrinho para o cargo de alto-comissário junto da República do Gana e Alexandre Herculano Manjate para o cargo de alto comissário junto da República do Malawi.
Num outro despacho presidencial, o chefe de Estado exonerou Osvalda Joana do cargo de alta-comissária junto da República do Gana.