O antigo Secretario da OJM, braço juvenil da Frelimo, no distrito de Chimoio, província de Manica, e recém-empossado membro da Assembleia Municipal de Chimoio, Wanda Moisés Madondo, foi detido, no domingo, 11, na cidade da Beira, por tráfico e venda de pangolim. Ele é suspeito de liderar um grupo de quatro jovens com quem tinha montado o negócio ilegal de pangolins, a preços até um milhão de meticais.
Segundo apurou o SAVANA, o número 11 da lista de membros da Assembleia Autárquica de Chimoio pela Frelimo, empossado a 7 de Fevereiro corrente, foi interceptado quatro dias depois com um animal vivo no 21º bairro Inhamizua, na entrada da cidade da Beira. O animal estava acondicionado numa caixa de água Vumba. O suspeito era tido como um dos “barões de tráfico” de pangolins, que fornecia a cidadãos de nacionalidade chinesa em Sofala.
Wanda Madondo, que conduziu a OJM até 2022 e foi indicado para Secretariado de Mesa da Assembleia Autárquica de Chimoio na sua tomada de posse, é também professor e director da Escola Primária Amílcar Cabral em Chimoio. Ele já era investigado por tráfico de pangolins.
Uma fonte do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC) na Beira, que confirmou sem detalhes a detenção deste político e de mais quatro dos seus comparsas, anotou que o pangolim apreendido foi entregue a ANAC (Administração Nacional das Áreas de Conservação). Esta entidade, por sua vez, entregou o animal a um santuário no Parque Nacional de Gorongosa.
A Polícia da República de Moçambique (PRM) e o SERNIC em Sofala adiaram de forma recorrente, na quarta e quinta-feira, a conferência de imprensa para apresentação dos suspeitos. Porém, à hora de fecho da presente edição, a Polícia divulgou uma nota, assinalando que os indiciados estão detidos na sexta esquadra da PRM-Beira. A Polícia também divulgou a identidade dos cinco detidos, onde consta Wanda Moises Lourenço Madondo, de 40 anos de idade.
A detenção, que ocorre nas vésperas da comemoração, a 18 de Fevereiro, do Dia Mundial do Pangolim, é resultado de vários anos de investigação do “barão do pangolim” levado a cabo por agentes do SERNIC, fiscais florestais nas províncias de Manica e Sofala e grupos internacionais de combate ao tráfico ilegal, soube o SAVANA de fonte segura.
Espécie protegida
O pangolim é considerado o mamífero mais traficado no mundo, que chega a superar o marfim e o corno do rinoceronte.
Existem no mundo oito espécies deste mamífero, nomeadamente: quatro asiáticas e quatro africanas. Estas últimas sãoconsideradas, desde 2017, espécies em extinção, pela Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies Ameaçadas (CITEs).
Dados oficiais do Programa Mundial das Nações Unidas para o Meio Ambiente apontam para pouco mais de um milhão de pangolins traficados para o mercado negro asiático nos últimos 10 anos. Só na região da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) estima-se em cerca de 50 mil animais abatidos por ano para efeitos de comércio ilegal.
Em Moçambique, 12 pangolins foram resgatados em 2022 graças aos trabalhos dos fiscais de florestas e fauna bravia dos parques e reservas, em coordenação com o SERNIC e a Procuradoria-Geral da República (PGR), mas estima-se que dezenas de pangolins foram traficados ilegalmente.
O pangolim desempenha um papel importante na manutenção do equilíbrio dos ecossistemas, sendo responsável pelo controle de algumas pragas, tais como formigas e térmitas, mantendo o solo arejado e fértil. Estima-se que um pangolim adulto pode consumir mais de 70 milhões de insectos por ano.
Na tradição moçambicana, o pangolim é também designado por eka (no Norte), nkawale (na região Centro) e halakavuma (no Sul) e possui um valor social cultural inestimável, visto como um animal associado a muitos mitos tais como o de acreditar que é um enviado dos deuses para trazer a prosperidade, a chuva, boas colheitas na agricultura ou, por vezes, como mensageiro de eventos negativos como a seca e outros fenómenos climáticos.
Importa realçar que antes da globalização, estes mitos e crenças contribuíram positivamente para a sobrevivência desta espécie, impulsionando o aumento da procura de produtos derivados do pangolim para a medicina tradicional asiática. Este facto foi determinante para o declínio da população do pangolim na África e Ásia.
Os pangolins são encontrados em toda a África e Ásia, mas todas as oito espécies estão em risco de extinção.
Os pangolins são traficados para alimentar a cada vez maior procura da sua carne, mas também para suprir as necessidades da medicina tradicional, o que levou a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) a considerar todas as oito espécies em declínio e ameaçadas de extinção.
A medicina tradicional chinesa recorre a escamas de Pangolim para promover o fluxo sanguíneo, reduzir inchaços e tratamento contra artrite. A China e o Vietname são os principais mercados de destino do animal.