Durante as alegações finais esta semana no julgamento de Manuel Chang, em Nova Iorque, a acusação e a defesa confrontaram-se com a questão do papel desempenhado por Luís Rocha Brito, um revendedor de viaturas de Maputo, que terá facilitado a devolução do 7 milhões de dólares que o antigo Ministro das Finanças recebera da Privinvest como subornos
De acordo com um documento exibido no tribunal, Rocha, proprietário da Interauto, transferiu para a conta número 5082601002 do Ministério da Economia e Fianças, domiciliada no Banco de Moçambique, o referido montante de 7 milhões de dólares.
A operação teve lugar no dia 29 de Novembro de 2019, três dias antes de Jean Boustani, o operativo da Privinvest nas dívidas ocultas moçambicanas, ter sido ilibado no julgamento que decorreu no mesmo tribunal de Brooklyn, em Nova Iorque.
O valor é referido em vários documentos internos da Privinvest e foi exibido em tribunal como prova de pagamentos feitos a Chang como recompensa pela assinatura das garantias soberanas que suportaram os empréstimos feitos às defuntas empresas Proindicus e EMATUM.
De acordo com documentos que oram exibidos perante o tribunal, o dinheiro foi pago pela Privinvest a uma empresa denominada Thyse International, sedeada nas Ilhas Virgens, um paraíso fiscal pertencente à Grã-Bretanha. Brito depois enviou o montante para uma firma de gestão de activos, conhecida por Genoa Asset Management. Brito possui contas tanto na Thyse como nesta última empresa. Os outros pagamentos, de acordo com a acusação, foram pagos através de familiares de Manuel Chang, nomeadamente a sua falecida esposa Lizete Adriano Simões, a filha Manuela Solange Martins e o genro Ingilo Dalsuco.
O advogado principal de Manuel Chang, Adam Ford, defendeu que as transacções com Brito não constituíam provas de que subornos tivessem sido pagos ao seu cliente. Mas reconheceu que os dois têm uma longa amizade. “O seu filho Pedro chama o ministro Chang de tio”, disse ele, descrevendo Brito como um homem muito rico, com património avaliado em 50 milhões de dólares, incluindo 10 milhões em Moçambique.
No dia 29 de Julho, o Procurador-Geral Adjunto Ângelo Matusse confirmou que Manuel Chang havia devolvido 7 milhões de dólares ao Estado moçambicano, mas num processo movido contra o antigo ministro em Maio de 2023, dizia-se que o valor havia sido recuperado pelas autoridades competentes através de um processo de restituição voluntária.
As autoridades americanas estarão a investigar Brito por alegada lavagem de dinheiro nas transacções a favor de Manuel Chang, com recurso a bancos correspondentes dos Estados Unidos.
Depois das alegações finais feitas na Segunda-feira, o Juiz Nicholas Garaufis deverá dirigir-se aos 13 membros do júri sobre as duas acusações que pesam sobre Manuel Chang, nomeadamente de conspiração para fraude electrónica e lavagem de dinheiro. O júri terá depois algum tempo para deliberar sobre o mérito dos argumentos da acusação e da defesa.
(Zitamar News/mediaFAX)