Foi-se o “rei” da marrabenta, mas ficou imortalizada a coroação de um percurso apaixonado pelo canto e dança de um dos ritmos mais celebrados em Moçambique, principalmente na região sul.
Podia ter sido pastor religioso – e com isso ter tido a possibilidade ganhar a vida com a evangelização das almas, como muitos o fazem – porque teve formação teológica, ou continuado como mineiro na África do Sul, mas Dilon Ndjindji viveu predestinado para o canto e dança da “marrabenta”, até à sua morte, aos 97 anos, na última terça-feira, na sua terra natal, Marracuene, província de Maputo, sul de Moçambique.
Foi compositor, intérprete, coreógrafo e bailarino com forte influência no estilo musical da sua eleição, a marrabenta.
Aos 12 anos de idade, Dilon Ndjindji construiu a sua própria guitarra de três cordas com uma lata de azeite. Nem mais, três anos depois, ganhou a primeira viola e começou a tocar em casamentos e festas.
Em 1945, concluiu os estudos secundários e a seguir frequentou um curso de estudos bíblicos na Missão Suíça, em Marracuene.
Em 1947 foi pastor na Ilha Mariana, actual Ilha Josina Machel, na província de Maputo.
Em 1950, foi trabalhar como mineiro para a África do Sul, de onde regressou definitivamente em 1954 para Moçambique.
Em 1958, Dilon Ndindji junta-se à mulher da sua vida, Alice Macanane, com quem começou a dançar nos anos 60 quando criou o seu próprio grupo musical ‘’Estrela de Marracuene’’.
Gravou o seu primeiro álbum, denominado Xiguindlana, em 1973, através da casa discográfica Produções 1001.
Notabilizou-se pelo seu espírito energético e protagonista com músicas que retratam situações sociais.
“Hits” como “Podina”, “Maria Teresa”, “Muhinhana” e “Marracuene” tornaram-se sinónimo de Dilon Djindji.
Em 1994, ganhou o concurso N’goma Moçambique, da Rádio Moçambique, na categoria de Canção Mais Popular.
Teve carreira internacional, a partir de 2001, como membro do grupo Mabulu.
“Duelo” com Fany Mpfumo
Dilon Ndjinji foi protagonista de um dos duelos mais saudáveis na música moçambicana, ao disputar com Fany Mpfumo, falecido em 1987, o título de expoente máximo da marrabenta.
A “querela” levou Mpfumo a escrever que “em Marracuene há um rei da marrabenta, mas que não chegou ao meu nível, porque o meu dom foi-me dado por Jeová” – tradução livre.
A letra foi vista como uma referência irónica a lateral de Mpfumo ao “rival” Dilon Ndjindji.
A forte massificação da marrabenta levou à adaptação e fusão com outros géneros por músicos de gerações mais novas.
A dedicação de Dilon Ndjindji valeu-lhe a “Medalha de Mérito de Artes e Letras” atribuída pelo Governo moçambicano e a participação no filme “Marrabentando – As Histórias que a Minha Guitarra Canta”, produzido por Karen Boswell.
Teve ainda direito ao livro “Vida e Obra de Dilon Djindji”, publicado em 2013.
O cantor e bailarino tinha uma rua com o seu nome no distrito de Marracuene, província de Maputo, onde nasceu e vivia.