O político e deputado da oposição sul-africana, Mmusi Maimane, disse ao SAVANA que a África do Sul não pode ficar em silêncio, apelando a Pretória para interceder junto de Maputo a favor de uma resolução pacífica da violência pós-eleitoral em Moçambique. Maimane defendeu também que o segundo candidato presidencial mais votado nas eleições gerais de 09 de Outubro, Venâncio Mondlane, deve ser protegido, porque a sua morte seria um duro golpe à democracia.
“O líder da oposição, Venâncio Mondlane, deve ser protegido, porque a sua protecção é importante para a democracia moçambicana”, afirmou Maimane, deputado da Assembleia Nacional pelo partido Build One South Africa (BOSA).
Importantes sectores sul-africanos defendem uma resolução rápida da crise em Moçambique e o fim das manifestações convocadas por Mondlane, que estão a ter efeitos colossais nas duas economias. As economias dos dois países são dependentes uma da outra. Questionado sobre isso, Maimane concordou sobre a importância de se travar a violência, argumentando que está a ter impactos severos nos investimentos dos dois países.
Um dos grandes investimentos da África do Sul em Moçambique é da Sasol, que explora reservas de gás desde 2004 em Temane e Pande, na província de Inhambane, sul de Moçambique. A África do Sul recebe a maior parte das suas importações de gás através do Gasoduto Rompco, que liga campos de gás terrestres em Moçambique ao complexo industrial de Secunda da Sasol, na província de Mpumalanga, antes de serem encaminhados para os clientes em Gauteng e Regiões KwaZulu-Natal.
Semana passada, os ministérios da Indústria e Comércio e dos Negócios Estrangeiros e Cooperação reuniram-se, em Maputo, com empresários congregados na Câmara de Negócios da África do Sul, com investimentos em Moçambique, com o objectivo de avaliar o impacto das manifestações pós-eleitorais nos seus empreendimentos.
A câmara de negócios é composta por 25 empresas de capitais sul-africanos, que operam em Moçambique, onde se destacam a Sasol, supermercados Shoprite, Mozal, MPDC (gestora do Porto de Maputo) e a operadora de telefonia móvel, Vodacom.
Carta de Venâncio
Há dias, Mmusi Maimanecolocou no Twitter uma carta em que Venâncio Mondlane pede a sua ajuda para persuadir as autoridades sul-africanas a providenciar protecção, temendo pela sua vida em Moçambique.
“Atacar Mondlane é atacar a democracia, porque se trata de um político que representa as aspirações de muitos moçambicanos”, avançou.
No entanto, Mmusi Mmaimane defendeu que a África do Sul não pode ficar em silêncio em relação ao que se passa em Moçambique, porque os dois países têm laços que produzem impacto em ambos, quando se registam convulsões numa das nações.
“A África do Sul não pode ficar ao lado e em silêncio, porque também sofre com o que se passa em Moçambique”, sustentou Mmaimane.
Lembrou que Moçambique e outros países africanos apoiaram e foram solidários com a luta do povo sul-africano contra o “apartheid”, o que impõe um dever de solidariedade e reciprocidade.
Adiantou que interpelou o parlamento sul-africano no sentido de mobilizar esforços para uma “resolução pacífica” da crise eleitoral prevalecente.
Mmusi Maimane lamentou a impotência da Comunidade de Desenvolvimento da Africa Austral (SADC) em travar a violação das regras democráticas, alertando que esta postura configura cumplicidade com os transgressores.
“Já tivemos esta postura em relação ao Zimbabwe, onde as fraudes eleitorais deviam ser denunciadas e reprimidas pela SADC”, sublinhou.
Mmusi Maimane subiu à ribalta da paisagem política sul-africana, quando assumiu a chefia da bancada da Aliança Democrática, um partido cuja maioria de membros são brancos e considerado herdeiro do Partido Nacional, formação política “pai” do “apartheid”, a sinistra política de discriminação racial, que dominou o país durante décadas. Maimane deixou a Aliança Democrática e ajudou a fundar o BOSA.