O Ministério da Agricultura, Ambiente e Pescas (MAAP) suspendeu um concurso sobre a digitalização de cadeias de valor de culturas de algodão e oleaginosas ganho por uma empresa de um sócio de Roberto Albino, titular daquele pelouro, na sequência de dúvidas sobre a legalidade e transparência do processo.
“Enquanto decorrem os trabalhos de inspecção, interinamente, os processos relacionados com o concurso estarão suspensos e, tão logo que tenhamos novos desenvolvimentos sobre o assunto, prestaremos a devida informação ao público, em geral, pelas mesmas vias”, refere o MAAP, em comunicado que distribuiu na quarta-feira.
Foi ainda activada a Inspecção-Geral da Agricultura, para a averiguação dos factos relacionados com o concurso, avança-se no comunicado.
O MAAP indica que Roberto Albino não é sócio da Flamingo Lda, empresa co-proprietária da Future Technologies of Mozambique, sociedade que ganhou o concurso 35A001641/IAOM/CP/16/2025, referente à contratação de serviços de desenvolvimento de uma plataforma para a digitalização das cadeias de valor das culturas do algodão e oleaginosas.
Mas o governante detém 2% na DonaWafica, SA, criada em 2015, onde a Flamingo Lda, controla 24%, pode ler-se no comunicado.
A Flamingo é detida por Paulo Auade Júnior, filho do antigo governador de Tete, Paulo Auade, uma teia societária que suscita suspeitas de conflito de interesses.
Outro facto que levanta dúvidas sobre a lisura do processo prende-se com o facto de a Future Technologies of Mozambique, uma sociedade anónima, ter sido criada há quatro meses, em Abril de 2025, quando Roberto Albino já era ministro da Agricultura, dado que tomou posse em Janeiro.
No comunicado que distribuiu na quarta-feira, o MAAP diz que se rege por princípios de independência, imparcialidade e isenção.
O concurso foi lançado no dia 19 de Julho pelo Instituto Nacional de Algodão e Oleaginosas (IAOM) “estando a decorrer sem interferência externa”, porque esta entidade goza de autonomia administrativa, financeira e patrimonial, assinala o MAAP.
“Os processos de contratação não são alvo de qualquer acto administrativo – em toda a sua extensão – da parte do ministro ou dos secretários de Estado”, pode ler-se na nota de imprensa.
“Da avaliação realizada, foi aprovada em primeiro lugar a proposta apresentada pela Future Technologies of Mozambique, com o certificado da UFSA nº 2025A000026906PE, parceira da Inspur Software Technology Co. Ltd, pelo facto de ter apresentado a solução técnica considerada melhor e mais realista, contendo a integração dos sete módulos exigidos pelo IAOM, IP”, diz-se no comunicado.
Confundir a opinião pública
Para o MAAP, “tudo o que tem sido veiculado na imprensa e noutras plataformas não passa de uma tentativa premeditada de confundir a opinião pública, com meras especulações para passar a ideia de que o ministro da Agricultura, Ambiente e Pescas interferiu no processo de contratação em causa”.
O concurso é avaliado em cerca de 130 milhões de meticais e a Future Technologies of Mozambique apresentou uma proposta técnico-financeira de 129.862.382,80 meticais.
Concorreram ainda a Vodacom Moçambique, com uma proposta de 102.166.185,00 meticais e a Intellica, SA, com uma proposta de 126.424.554,60 meticais.