Apesar de Moçambique estar à beira de atingir as metas globais de tratamento, a Primeira-Ministra, Benvida Levi, revelou números arrepiantes nas celebrações do Dia Mundial de Luta contra o SIDA: em 2024, o país registou 44 mil mortes e 92 mil novas infecções, com as raparigas a serem três vezes mais infectadas que os rapazes.
O país possui hoje um dos maiores casos de tratamento de HIV do mundo, com cerca de dois milhões de pessoas a receberem anti-retrovirais (TARV). O alerta foi dado, nesta segunda-feira,em Maputo, pela Primeira-Ministra, Benvida Levi, que, expôs o paradoxo da resposta nacional ao HIV: um sistema de saúde resiliente que salva milhões de pessoas.
Falando sob o lema “Superar as crises, transformar a resposta ao HIV”, a governante não escondeu que a epidemia continua a ser “um dos maiores desafios de saúde pública” do país, agravado por factores estruturais como a pobreza, desigualdades e violência baseada no género.
Os dados apresentados pelo Executivo, referentes a 2024, desenham um cenário preocupante. Estima-se que 2.5 milhões de moçambicanos vivem com o vírus. Mais alarmante ainda é o rasto de morte que a doença continua a deixar: num só ano, registaram-se 44 mil óbitos relacionados com a SIDA. Destes, 10 mil foram crianças entre os 0 e os 14 anos, um número que expõe as fragilidades na prevenção da transmissão vertical e no tratamento pediátrico.
No entanto, foi na análise das novas infecções que Benvinda Levi colocou a tónica. Das 92 mil novas infecções registadas em 2024, 34 mil, o que corresponde a 37 porcento, ocorreram entre adolescentes e jovens.
A desigualdade de género nesta faixa etária é gritante. “Para cada nova infecção em rapazes adolescentes e homens jovens de 15-24 anos, houve três novas infecções em raparigas adolescentes e mulheres jovens da mesma faixa etária”, sublinhou a Primeira-Ministra.
Estes números confirmam que a “feminização” da epidemia em Moçambique continua a ser uma realidade por reverter, exigindo, segundo a governante, “maior protecção e solidariedade nacional”.
Apesar dos números sombrios sobre novas infecções, o Governo diz haver progressos “notáveis” na vertente clínica. Benvinda Levi anunciou que, até Setembro de 2025, o país alcançou resultados que o colocam muito próximo das metas globais da ONUSIDA para 2030 (95-95-95).
Segundo Benvinda Levi, actualmente, o quadro nacional apresenta-se da seguinte forma: 87% das pessoas vivendo com HIV conhecem o seu estado serológico, 95% dos diagnosticados estão em tratamento anti-retroviral. E 91% dos que estão em tratamento possuem carga viral suprimida [intransmissíveis].
A Primeira-Ministra atribuiu estes ganhos à adaptação dos modelos de serviço, incluindo a dispensa de medicamentos para 3 a 6 meses e o reforço das abordagens comunitárias, apesar dos choques sofridos pelo sistema de saúde devido à pandemia da COVID-19 e aos eventos climáticos extremos.
O plano de ataque
Para fechar as brechas que ainda permitem que o vírus prospere, Benvinda Levi anunciou a continuidade de uma abordagem multissectorial. Entre as medidas de destaque está o reforço da educação sexual nas escolas, com o objectivo de chegar a mais de 7 milhões de estudantes, numa tentativa clara de travar as infecções entre os jovens.
O Governo promete ainda expandir o auto-teste para populações de difícil acesso e normalizar a profilaxia pré-exposição (PrEP), focando-se nos grupos mais vulneráveis e nas populações-chave que ainda enfrentam estigma.
“O HIV/SIDA ainda não acabou”, enfatizou Benvinda Levi, apelando a um esforço conjunto para eliminar a doença como ameaça de saúde pública até 2030. “O combate a esta epidemia é a luta de todos nós pela dignidade humana.”
(Cleto Duarte)