Centro de Integridade Pública (CIP) revelou dados que indiciam o Ministro da Agricultura, Ambiente e Pescas (MAAP), Roberto Albino, de ter influenciado o resultado final do polémico concurso adjudicado a Future Technologies of Mozambique (FTM) pelo Instituto do Algodão e Oleaginosas de Moçambique (IAOM), no valor de 130 milhões de meticais.
O caso já está a ser seguido pelo Gabinete Central de Combate à Corrupção sob n°103/11/O/GCCC/2025.
Segundo o Centro de Integridade Pública há evidencias bastante para dizer que o concurso já tinha sido antecipadamente adjudicado à empresa antes da promulgação oficial dos resultados.
É caso para dizer que o ministro da Agricultura, Ambiente e Pescas, Roberto Albino, sempre soube da existência do polémico concurso público promovido pelo Instituto do Algodão e Oleaginosas de Moçambique, no valor de 130 milhões de meticais, proposta mais cara em relação ao que foi apresentado por outros concorrentes deixados para trás.
Um vídeo de mais de duas horas, disponível na página do CIP, contradiz o discurso direcção do Instituto do Algodão e Oleaginosas de Moçambique (IAOM), segundo o qual o concurso esteve imune a influências externas. O IAOM defendeu ainda que a a Future Technologies of Mozambique (FTM) foi adjudicada o polémico concurso por ter apresentado uma proposta considerada mais adequada e realista.
Segundo apurou o Centro de Integridade Pública (CIP), duas semanas antes da adjudicação do concurso à Future Technologies of Mozambique, Roberto Albino estava inteirado sobre o assunto.
Prova disso, é que no dia 01 de Agosto passado, Paulo Auade Júnior, sócio de Roberto Albino na empresa Donawafika e representante da Future Technologies of Mozambique (FTM), apresentou ao ministro a plataforma de digitalização da cadeia de valor do Algodão, Oleaginosas e culturas alimentares.
A referida plataforma que foi apresentada ao próprio ministro Roberto Albino, ao IOAM, e a dirigentes de instituições tuteladas pelo Ministério da Agricultura, Ambiente e Pescas, durante a Reunião Nacional de Sementes, realizada na cidade de Chimoio, na província de Manica, é, neste momento, objecto do polémico concurso público promovido pelo IAOM.
Na reunião, Paulo Auade Júnior apresentou-se como representante da Future Technologies of Mozambique. Começou o seu discurso, diante do ministro, saudando-o e a todos presentes. “Bom dia a todos. Começamos por cumprimentar, com elevada consideração e respeito, à Sua Excelência ministro da Agricultura, Ambiente e Pescas (…). Chamo-me Paulo Auade Júnior, sou repreentante da FTM (…)”, disse.
Prosseguindo, exibiu um vídeo no qual deu a conhecer o seu parceiro tecnológico, depois apresentou a plataforma de digitalização que vai permitir o registo dos agricultores numa plataforma electrónica, a distribuição de insumos, o rastreamento da origem da semente para garantir a qualidade e responsabilização, validar as importações e exportações, entre outros. Explicou que isto tudo vai contribuir para que o Estado arrecade mais receitas e credibilidade nos mercados.
Finda a apresentação, Auade Júnior manifestou a sua disponibilidade para esclarecer quaisquer questões relativas ao funcionamento da plataforma de digitalização da cadeia de valor do algodão e oleaginosas.
Apesar de todo o exercício de afastamento de um possível envolvimento do ministro na contratação e favorecimento à Future Technologies of Mozambique, a presença e declarações de Roberto Albino e Paulo Auade Júnior no encontro sobre sementes em Manica, no dia 01 de Agosto, reforça as suspeitas de conflito de interesse, por conta da proximidade do ministro e seu sócio no concurso do Instituto do Algodão e Oleaginosas de Moçambique.
Além de indícios de conflito de interesses, o concurso apresenta fragilidades que colocam em causa a sua legalidade e legitimidade, segundo o CIP.
Refira-se que a Future Technologies of Mozambique foi criada em Abril deste ano, não tem experiência comprovada no sector e possui capital social incompatível com a dimensão do contrato, estimado em 130 milhões de meticais. Ainda assim, foi a escolhida apesar de ter apresentado a proposta financeira mais cara.
No âmbito da denúncia sobre as alegadas irregularidades no concurso público promovido pelo Instituto de Algodão e Oleaginosas de Moçambique foi instaurado um processo-crime sob n°103/11/O/GCCC/2025, que corre termos no Gabinete Central de Combate à Corrupção (GCCC), para aferir as irregularidades, matéria criminal e responsabilizar os prováveis agentes do crime.