O Ministro da Defesa Nacional, Cristóvão Chume, pintou um cenário sombrio sobre a saúde financeira das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM). Numa audição parlamentar marcada por revelações sobre a incapacidade de aquisição de equipamento letal e “logística de boca”, o governante revelou que o sector necessita de uma média de 220 milhões de meticais por mês apenas para garantir a alimentação dos militares.
O sector da Defesa continua a navegar em águas turvas devido a um défice orçamental crónico que tem forçado a acumulação de dívidas sucessivas com fornecedores de bens e serviços.
Chume deu esse alerta na Assembleia da República, numa audição sobre o Plano Económico e Social e Orçamento do Estado (PESOE) para 2026.
Perante os deputados, o titular da pasta da Defesa não escondeu que a “exiguidade do orçamento” tem comprometido a operacionalidade e a logística básica das tropas, com dívidas que transitam de exercício económico.
A factura da “logística de boca”
Um dos pontos mais críticos levantados pelo ministro prende-se com a subsistência básica dos efectivos. Segundo Chume, as dificuldades de tesouraria colocaram, no ano passado, o sector perante “graves problemas de abastecimento alimentar”.
“As dívidas ainda continuam, ainda continuam, dada a exiguidade do orçamento que nós temos. Elas foram sendo transmitidas de ano para ano”, admitiu o governante, detalhando a fasquia financeira necessária para manter os quartéis abastecidos:
“Nós estamos a falar agora de um valor médio de 220 milhões de meticais, que são a demanda mínima que as Forças Armadas exigem para poder contemplar toda a alimentação delas durante o mês.”
Apesar do cenário de aperto, Chume indicou que houve ligeiros progressos na liquidação das contas, fruto de uma nova estratégia governamental para a liquidar as dívidas do Estado.
“O pagamento de 25% da dívida em alimentação, isso já foi conseguido, e cerca de 17,5% em bens e serviços também já conseguimos até agora”, referiu.
Falta dinheiro para armas
Para além da alimentação, o Ministro da Defesa tocou num ponto sensível para a soberania nacional: a incapacidade de reequipar as forças armadas com material bélico adequado. A aquisição e reposição de equipamento letal tem sido travada pelos custos elevados, num momento em que o país ainda enfrenta desafios de segurança,como o terrorismo em Cabo Delgado e com foco de alastramento para Nampula.
“Nós temos grande dificuldade, particularmente no equipamento letal. Como sabem nós, as reposições em armas e munições e outro tipo de equipamento necessários para combater é uma grande dificuldade porque custa muito”, lamentou Chume.
“Onde não há segurança ninguém quer investir”
Aproveitando a presença na “Casa do Povo”, Cristóvão Chume lançou um apelo veemente para que o Orçamento do Estado deixe de secundarizar o sector de defesa. O ministro invocou o binómio segurança-desenvolvimento para justificar a necessidade de um envelope financeiro mais robusto para 2026.
“Nós gostaríamos de aproveitar esta oportunidade, que é mesmo para reiterar que era necessário a Assembleia da República continuar a reforçar a ideia de que o sector de defesa tem de ser uma prioridade”, exortou.
O governante foi peremptório ao alertar para os riscos económicos de um exército subfinanciado: “Não podemos continuar com a prioridade secundarizada em relação à defesa, sabendo que o binómio defesa e desenvolvimento andam sempre juntos. Onde não há segurança ninguém quer investir”.
Digitalização e Hospitais Militares
Para o próximo ano económico, o Ministério da Defesa pretende ainda avançar com a modernização da gestão através da digitalização e reforçar a formação das tropas.
Na lista de prioridades apresentada aos parlamentares consta também um pedido de apoio para a reconstrução de infraestruturas de saúde militar. Vários hospitais militares, destruídos pela passagem de ciclones nos últimos anos, continuam por reabilitar, agravando as condições de assistência médica aos efectivos.
(Cleto Duarte)