O Banco Nacional de Investimentos (BNI) apresentou, na última Quarta-Feira, os seus resultados provisórios de 2025, mostrando um acumulado até Novembro de 161,5 milhões de meticais, ultrapassando em 139% o seu desempenho de 2024.
Segundo o Presidente da Comissão Executiva (PCE) do banco, Abdul Jivane, este desempenho foi impulsionado pela intensificação das operações comerciais, incluindo um maior engajamento com clientes e parceiros de negócios.
Os resultados foram apresentados durante uma sessão com clientes e jornalistas, parte de uma acção visando divulgar as actividades do banco e procurar expandir o seu negócio.
De acordo com um dos administradores executivos do banco, Edson Mangunhane, o desempenho do banco neste ano foi influenciado por incertezas e riscos que caracterizaram a economia global, particularmente nos primeiros seis meses do ano, sendo de destacar a escalada tarifária imposta pelo governo dos Estados Unidos sobre as operações comerciais internacionais, o que terá tido impacto que se materializou com elevado custo das importações e interrupção das cadeias de suprimento.
“Isso, de alguma forma teve um impacto na percepção dos agentes económicos sobre o nível geral de preços”, disse Mangunhane, acrescentando que era necessário também destacar os conflitos no Médio Oriente e na Europa, que sobretudo têm impacto nos preços de produtos como cereais e combustíveis, os quais condicionam o custo do financiamento.
No plano interno, como um dos principais factores condicionantes apontou a recessão económica que o país atravessa, cobrindo quatro trimestres consecutivos, que tem implicações em termos da procura de crédito e da percepção do risco do crédito.
Outro dos factores a destacar foi a deterioração do risco de crédito soberano em moeda doméstica, fazendo com que vários bancos tivessem de constituir imparidades, para além da incerteza sobre a disponibilidade de moeda externa, que leva os bancos a restringir a quantidade de divisas que colocam no mercado.
Apesar de tudo isto o banco considera-se sólido, com um rácio e solvibilidade em Novembro de 2025 de 39,5%, acima da média do sector que é de cerca de 26%, e dos requisitos regulamentares, que é de 12%. O nível de liquidez situou-se em 109%, também acima dos 65% da indústria, e dos 25% exigidos pelo Banco de Moçambique. O nível de crédito não produtivo para o mesmo período fixou-se em 7,5%, o que representa metade do sector bancário. Este indicador já atingiu cerca de 44% em 2023, e baixou para 18% em 2024, reflectindo a melhoria do rigor na análise do risco de crédito, para além de uma monitoria mais rigorosa sobre o cumprimento de prazos de amortização e outras medidas de gestão.
O BNI foi criado em 2010, como instrumento para o financiamento de projectos de desenvolvimento e de impacto na economia, com um capital social de 500 milhões de dólares, envolvendo os Estados moçambicano e português.
Capitalização
Contudo, só o governo português, através da Caixa Geral de Depósitos (CGD), na altura foi capaz de realizar o seu capital, injectando 35 milhões de dólares. O governo moçambicano só conseguiu emitir obrigações do tesouro de 10 anos, que foram endossadas ao Instituto de Gestão de Participações do Estado (IGEPE), e que só com a sua maturação, em 2020, foi possível capitalizar o banco em 70 milhões de dólares.
Os 70 milhões de dólares representam 14% do capital social, o que deixa o banco numa posição em que não pode realizar plenamente as suas ambições.
“Isto obviamente teve um impacto na nossa capacidade de intervenção na economia, na dimensão que esperávamos, e o banco teve de se reinventar e procurar soluções junto dos seus parceiros nacionais e internacionais para levar a cabo a sua missão, mas garantindo, acima de tudo, a sustentabilidade do banco”, disse Jivane.
Jivane acrescentou que apesar desta sub-capitalização, o BNI tem actualmente um activo de 14,6 biliões de meticais, sete vezes mais o valor que tinha no acto da sua constituição, fruto das “parcerias que estabelecemos com diversas entidades”.
O BNI foi criado tendo como premissa a ideia de se autofinanciar com recursos do Estado, mas dado que tal nunca aconteceu, foi necessário encontrar outras alternativas de mobilização de recursos.
Uma dessas alternativas, disse Jivane, “foi abrir-se um pouco mais para o segmento corporate, que tem muita liquidez, de forma a captarmos esses recursos e emprestarmos a outras entidades que querem investir ou financiar as suas operações de tesouraria”.
Com essa abordagem, a instituição desviou-se da sua concepção inicial como banco de desenvolvimento, passando a assumir características comerciais.
Por isso é que durante o encontro, alguns participantes questionaram se numa altura em que o governo volta a pensar na necessidade de criação de um banco de desenvolvimento, não seria mais racional aproveitar a estrutura já existente no BNI, do que criar mais uma instituição, dispersando escassos recursos.