Moçambique registou 2.294 casos de aborto inseguro nos primeiros seis meses de 2025, contra 2.358 no mesmo período do ano passado. Os dados foram divulgados esta quinta-feira, em Maputo, pela chefe do Departamento de Saúde Familiar do Ministério da Saúde (MISAU), Gisela Azambuja, durante a Feira de Saúde alusiva ao Dia Internacional do Aborto Seguro.
No total, o país contabilizou 49.582 abortos, dos quais 16.986 foram realizados de forma segura em unidades sanitárias. Segundo Azambuja, esta redução deve-se à expansão dos serviços de aborto seguro para mais unidades de saúde e à actualização das normas clínicas de cuidados pós-aborto.
“No nosso país, o aborto inseguro representa um grande problema de saúde pública, sendo que as estatísticas intra-hospitalares mostram que constitui uma das dez principais causas de admissões de mulheres aos hospitais. Apesar dos progressos, continua a ser uma preocupação de saúde pública, representando 8% das causas directas de mortalidade materna no país”, advertiu a chefe do Departamento de Saúde Familiar do MISAU, durante o evento.
Em todo o mundo, o aborto inseguro é uma das principais causas de mortalidade materna e responsável por 13,2% a 44,7% das mortes maternas, principalmente em países de média e baixa renda.
O Dia Internacional do Aborto Seguro é observado anualmente a 28 de setembro, tendo este ano sido assinalado localmente sob o lema “Aborto Seguro é um Serviço Essencial de Saúde: Menos Restrições”. O encontro juntou autoridades de saúde, parceiros de cooperação e líderes comunitários para reflectir sobre os desafios que colocam mulheres e raparigas em situação de vulnerabilidade.
Na ocasião, o administrador distrital da Matola, Gilion Michila, destacou que falar de aborto seguro “não significa promover a interrupção da gravidez, mas sim defender a vida, proteger a saúde e garantir os direitos fundamentais das mulheres”. O dirigente anunciou igualmente o lançamento do projecto Direitos Sexuais e Reprodutivos, que pretende ampliar o acesso à informação, aos serviços gratuitos de saúde sexual e ao combate ao estigma.
Michila alertou que muitas adolescentes enfrentam gravidezes precoces, muitas vezes resultantes de uniões prematuras ou violência sexual, e que, por falta de alternativas seguras, recorrem a práticas clandestinas e arriscadas que colocam suas vidas em perigo.
“Muitas famílias perdem mães, irmãs e filhas que poderiam estar vivas se houvesse mais informação, diálogo e acesso a serviços adequados”, disse o administrador, reforçando que o projecto Direitos Sexuais e Reprodutivos será uma janela de esperança, para o bairro Ndlavela e distritos circunvizinhos.
Por sua vez, a directora dos Serviços de Saúde no distrito da Matola, Felizância Muchanga, recordou que os direitos sexuais e reprodutivos são parte dos direitos humanos fundamentais. “O estigma, a desinformação e a falta de acesso expõem sobretudo adolescentes a situações de vulnerabilidade e de abortos inseguros. Falar de aborto seguro é também falar de justiça social e equidade”, sublinhou. A feira reafirmou o compromisso das autoridades e parceiros em reduzir ainda mais os índices de aborto inseguro e garantir serviços de saúde sexual e reprodutiva gratuitos e de qualidade para todas as mulheres e raparigas. (Helena Madança)