Armando Guebuza, antigo Presidente da República, marcou ontem, sábado, o fim das celebrações dos seus 80 anos com um sarau cultural que teve lugar nas futuras instalações da sua fundação, onde, discursando para marcar a ocasião, reconheceu que Moçambique está passar por uma situação de crise, mas que tal não deve ser motivo para se assustar.
“O nosso país vive uma crise”, disse Guebuza. “Mas para nós outros, que vivemos momentos críticos ao longo destas últimas décadas (…) não nos assustamos”.
Recorrendo à analogia das turbulências que os aviões experimentam em pleno voo, mas que depois se estabilizam e terminam com a aterragem nos seus destinos, Guebuza disse que “temos momentos críticos sim, mas estes não podem, nem devem desanimar os moçambicanos”.
Estas palavras foram correspondidas com aplausos por parte dos participantes no sarau, realizado debaixo de uma tenda montada no meio de uma mata na localidade de Ndixe, posto administrativo de Matalane, distrito de Marracuene, na província de Maputo.
Guebuza fazia-se acompanhar da sua esposa, Maria da Luz, e de entre os participantes destacaram-se dois antigos primeiros-ministros, nomeadamente, Luísa Diogo e Alberto Vaquina, para além de José Pacheco, que já ocupou as pastas da agricultura, do interior e dos negócios estrangeiros e cooperação.
Guebuza acrescentou que Moçambique deve fazer tudo o que puder para ultrapassar esta crise, “com o objectivo claro de sairmos destes momentos críticos mais unidos, reforçados e com mais experiência”.
Sublinhou que a experiência não é apenas a dos outros, sendo que é necessário valorizar as acções dos próprios moçambicanos.
Acrescentou que experiência não é apenas ouvi-la. Ela “deve transformar-se em lições de vida; devemos aprender delas para melhorar e evitar novas crises”.
Por isso, disse Guebuza, “gostaria de juntar a minha voz à dos outros moçambicanos, para dizer que este não é o momento de estarmos desmotivados, mas sim de dizermos, ‘daqui temos de sair mais fortes como país, como nação, mas também como sociedade’. Daqui devemos sair mais conhecedores, dada a experiência que estamos a ter neste momento, e daqui devemos levar as nossas crianças para patamares em que não tenham de assistir ou viver de novo este tipo de crises, porque as crises também têm de mudar; temos de aprender delas para não as repetir”.
Membro da Frelimo desde a sua fundação, em 1962, Guebuza assumiu vários cargos ministeriais desde a independência, em 1975, tendo entre 1990 e 1992 liderado a equipa do governo nas negociações de paz com a Renamo. Em 2002 tornou-se Secretário-Geral da Frelimo, e de 2005 a 2015 assumiu as funções de Presidente da República.
As celebrações do octogésimo aniversário começaram no dia 20 de Janeiro, a data precisa do seu nascimento, com a realização em Maputo, de um simpósio onde se tornou claro o seu desconforto com a actual governação, incluindo o facto de o seu filho, Nambi, não poder ter estado presente nas festividades, por se encontrar a cumprir uma pena de prisão devido ao seu envolvimento nas dívidas ocultas.
O tribunal que julgou o caso entre 2021 e 2022 chegou à conclusão de que Ndambi Guebuza teria recebido 33 milhões de dólares como parte dos subornos que foram pagos a alguns funcionários do governo e indivíduos moçambicanos para viabilizar os projectos de segurança marítima.
Intervindo no referido simpósio, Guebuza disse que a o sistema de administração de justiça nunca tinha conseguido explicar porque é que o seu filho não poderia estar em liberdade, ao mesmo tempo que sugeria que uma das suas filhas, Valentina, tinha sido assassinada em 2016 como parte do processo das dívidas ocultas.
Tanto o simpósio como o sarau foram organizados pela Fundação Armando Emílio Guebuza, que de acordo com o seu patrono “só terá sucesso se ela se enquadrar neste grande movimento de pessoas que não desanimam e que compreendem que para termos o bem, temos naturalmente de combater o mal, e que para termos o bem e sustentá-lo, devemos criar uma atitude de bem”.
Acrescentou que apesar de estar numa fase embrionária, a sua fundação já teve “algumas realizações que nos orgulham, mas que ao nos orgulharem, nós vemo-las como desafios para melhorarmos no futuro (…) com base no nosso trabalho, dedicação e auto-estima”.
Guebuza explicou que a fundação pretende reforçar a sua parceria com a comunidade de Ndixe, e fazer com que ela se sinta parte integrante das suas actividades, para além também das autoridades administrativas do distrito de Marracuene, muito em particular de Matalane. Outras parcerias serão com universidades, escolas, institutos de ensino e de pesquisa.
“É cultura para o bem, que se trata aqui”, disse Guebuza. “E queremos estabelecer parcerias mais fortes e sólidas com o empresariado de Ndixe, de Marracuene, da província de Maputo e de todo o país”.
O sarau cultural contou com a actuação de grupos que interpretaram vários temas, incluindo alguns inspirados em poemas do próprio aniversariante.