Sete condutores de moto-táxis foram assassinados e outros 21 escaparam após lhes serem roubadas as motas, durante o sequestro e assaltos às vítimas nos últimos seis meses na província central de Manica, situação que está a preocupar as autoridades e os operadores, que já limitam os serviços.
Uma média de um operador é assassinado por mês, e três motas são roubadas e depois vendidas nos distritos do interior ou nos países vizinhos.
O caso mais recente ocorreu a 2 de Fevereiro, no bairro 16 de Junho, um subúrbio de Chimoio, onde três jovens solicitaram um serviço de táxi e, após a chegada do operador, forçaram-no a entregar a mota e depois o assassinaram com golpes de baionetas.
No caso que antecedeu a este, no final de Dezembro, os assaltantes pararam um taxista que circulava numa via, cerca das 4:00 horas, no bairro Centro Hípico, para que os levasse para um endereço num bairro de expansão. Pelo caminho os dois assaltantes, que seguiam na mota, começaram a desferir golpes com faca ao condutor. Os ferimentos sugerem que resistiu e tentado lutar com os ladrões.
Neto Chiganda, presidente da Associação dos taxistas de motorizadas em Manica, afirmou que os sequestros e assassinatos dos operadores “continuam a tirar sono” aos associados, que lutam por uma estratégia que possa minimizar os homicídios.
“Sete táxi-motas morreram assassinados, e isso está a ser uma preocupação para nós. Não estamos a apanhar sono, e estamos em busca de soluções para acabar com os assassinatos”, disse Neto Chiganda, visivelmente alarmado com a situação.
Ele anotou que o medo implantado tem limitado os serviços de táxi no período noturno, quando já não há serviços de transporte público a funcionar, o que tem dificultado mais a mobilidade de pessoas, que procuram aceder a bairros desordenados e sem iluminação pública.
Uma das vítimas do assalto, Rogério Nelson, disse ao SAVANA que, na maioria das vezes, os assaltantes se fazem passar por clientes e até chegam a pagar pelo serviço para gerar confiança no operador, antes de executar o assassinato.
“Levei um cliente, que já tinha usado os meus serviços e ficou com meu contacto, para um destino, mas pelo caminho mudou de rota e fomos para uma casa onde já estavam à espera os seus comparsas, asfixiaram-me e perdi os sentidos, meteram-me numa mata e abandonaram-me e levaram a mota”, contou Rogério Nelson, destacando que este modus operandi do grupo levanta muita desconfiança dos operadores.
Gang do Zebito
Entretanto, a Polícia da República de Moçambique (PRM) em Manica, disse ter desativado, na segunda-feira, 5, um grupo de jovens suspeito de comandar os assaltos e assassinatos de moto-táxis e deteve o líder que controlava as redes.
Mateus Mindu, porta-voz da Polícia em Manica, acredita que “Zebito de Chimoio” é o líder que coordenava todas as acções criminosas”, de assalto aos operadores e o mesmo terá sido alvejado ao tentar resistir a uma operação policial, que acabou com a sua detenção.
“O famoso Zebito era tido como o cabecilha da rede dos assaltantes das motas e já vitimou vários operadores. Do trabalho efectuado foi possível deter este no final de semana e neste momento encontra-se sob custódia policial e já há um trabalho em curso visando recolher as restantes motas em mãos alheias”, explicou Mateus Mindu.
Acrescentou que o suspeito já era procurado pela Polícia e que tem um cadastro criminal extenso, sobretudo, por roubo e assassinato de moto-taxistas na cidade de Chimoio e noutros distritos.
Avançou que o modus operandi da gang era semelhante em todos os ataques. O grupo solicitava um serviço de táxi por telefone ou mandava parar um operador na via pública, com o modelo da mota que pretendiam, e pediam para serem levados a um ponto distante, geralmente bairros afastados do centro da cidade.
Contudo, o suspeito nega o seu envolvimento nos casos de assassinato e assumiu apenas roubo de motas que depois as vende a outros jovens, por seu turno revendem, sobretudo, nos países vizinhos de Moçambique, como Zimbabwe e Malawi.
“No início do mês assaltamos, e apenas ameaçamos e não ferimos alguém para roubar uma motorizada. Há duas semanas também roubamos outra mota. Nunca me envolvi em assassinato”, explicou o suspeito de 27 anos a jornalistas na primeira esquadra da Polícia em Chimoio.
A aguda crise de transporte urbano levou, em 2015, à inovação de táxi-mota em Chimoio, a capital de Manica, que se assumiu como alternativa ao alto custo dos táxis tradicionais, mas de alguns anos os seus operadores se tornaram no principal alvo de grupos criminosos.
Em 2022, 25 condutores de moto-táxis foram sequestrados e assassinados, e as motas roubadas na província de Manica. Alguns dos condutores tiveram também os seus órgãos genitais extraídos e suspeita-se o envolvimento de grupos criminosos no tráfico de órgãos humanos. (André Catueira, em Chomoio)