A Quinta Secção do Tribunal Judicial da Província de Maputo marcou para o próximo dia 25 de Março, as alegações do “caso Navara”, cujo julgamento iniciou no passado mês de Dezembro.
No banco dos réus está o arguido Saimon Valoi, 47 anos, conhecido nos meandros da caça furtiva por “Boss Navara” e o seu comparsa de nome Félix Zucula de 34 anos. O nome de guerra “Navara” provém do modelo “Nissan Navara”, um automóvel de eleição de Saimon Valoi, que também é conhecido por Luís Tivane e Massingir Juju, pois é um admirador de Julius Malema, muito popular na província de Limpopo, a zona onde o Navara operava.
Após a apresentação das alegações, momento em que cada uma das partes vai procurar convencer a juíza da causa a decidir a seu favor, será marcada a data da sentença. O tribunal espera que os argumentos da acusação e dos advogados da defesa durem cerca de cinco horas.
São dois réus que estão perante a juíza da causa a responder pelos crimes de abate e venda ilícita de produtos da fauna e espécies proibidas, associação criminosa, uso de armas proibidas, branqueamento de capitais, exposição de pessoas a perigo e uso de documentos falso.
Em caso de condenação, Navara e seu comparsa poderão cumprir 30 anos de prisão efectiva.
Navara e Zucula foram detidos na cidade de Maputo, no dia 26 de Julho de 2022, na posse de oito pontas de rinoceronte, com o peso de 7.5 quilogramas avaliados em cerca de 30 milhões de meticais.
À data da detenção, Navara era também procurado pela polícia sul-africana acusado de prática de crimes ambientais, roubo de viaturas e assassinatos.
Contudo, na acusação do Ministério Público, datado de 16 de Fevereiro de 2023, consta que os arguidos foram detidos, em flagrante delito, na posse de documentos diversos e quatro cornos de rinoceronte, avaliados em 15.395.520,00 meticais.
A polícia moçambicana acredita que Navara liderava, há mais de uma década, sindicatos de caça furtiva nas regiões do Parque Nacional de Limpopo (PNL), distrito de Massingir, província de Gaza e do Parque Nacional Kruger na vizinha África do Sul.
O MP entende que os arguidos fazem parte de um grupo criminoso que se dedica à prática ilícita de abate e comercialização de espécies faunísticos, na área do grande Limpopo que integra o Parque Nacional de Limpopo, em Moçambique, o Parque Nacional de Kruger, na África do Sul e o Parque Nacional Gonarezhou, no Zimbabwe, bem como a de contrabando de armas e de viaturas, principalmente entre Moçambique e África do Sul.
Segundo a acusação, como resultado da actividade criminosa, os arguidos acumularam avultadas somas em dinheiro, o que lhes permitiu a compra de viaturas, casas de luxo e de lazer, estabelecimentos comerciais, cujo processo de investigação financeira e patrimonial está em curso no Gabinete Central de Recuperação de Activos.
Antes da detenção, Navara era considerado um dos mais poderosos barões da caça furtiva, em Massingir. Vivia no bairro 6, arredores da pacata vila de Massingir. É neste bairro onde está erguida uma das mais emblemáticas residências que há em todo o distrito de Massingir.
Trata-se de uma residência com um espaçoso quintal, compreendendo casas e outras construções, todas de luxo.
Para não deixar dúvidas sobre o seu poder, a sua residência é alimentada por um Posto Transformador de energia, vulgo PT, montado dentro do seu próprio quintal.
Saimon Valoi é natural de Mavodze, uma pacata localidade do distrito de Massingir, encravada no meio de uma mata dentro do PNL. Navara saiu de Mavodze e vivia na Corumana (distrito de Moamba), de onde dirigia as operações de infiltração no Kruger Park.
No pico da caça furtiva, entre 2008 a 2015, Mavodze foi uma das áreas de recrutamento de jovens para a caça furtiva. Mavodze dista cerca de 50 quilómetros da linha de fronteira com a África do Sul.
Mavodze é onde, em 2015, o Jornalista alemão, Bartholomäus Grill, e o fotógrafo Toby Selander, foram fortemente ameaçados pela população local, quando procuravam os barões da caça furtiva.