As autoridades administrativas contabilizaram, até ao meio da manhã desta segunda-feira, perto de 100 mortos em resultado do naufrágio ocorrido no início da tarde deste domingo, 7 de Abril, na zona de uma praia denominada Quissanga, na ilha de Moçambique, província de Nampula, norte de Moçambique.
Com informações colhidas junto dos marinheiros do barco naufragado, que apontam para cerca de 130 pessoas que iam na embarcação, estima-se que o número de vítimas mortais possa subir consideravelmente, uma vez que apenas 18 passageiros tinham sido contabilizados como sobreviventes e transportados de emergência para o centro de saúde local. Ou seja, até ao meio da manhã de ontem, as estimativas apontavam para cerca de 14 desaparecidos. Porque nessa altura [ontem] já passavam cerca de 24 horas depois do naufrágio, as autoridades também admitiam existir poucas possibilidades de encontrar sobreviventes.
O episódio, que marcou tragicamente o dia em que o país comemorava o dia da mulher moçambicana, foi descrito, pelas autoridades da província de Nampula e do distrito da ilha de Moçambique, como resultado do que se considera “sobrelotação” de um barco, que nem estava concebido e nem autorizado para o transporte de pessoas, mas sim para a pesca.
O que se conta é que a embarcação partiu do posto administrativo de Lunga, distrito de Mossuril, transportando pessoas, que queriam, a todo o custo, fugir de um boato sobre a propagação da cólera, que matava as pessoas em menos de cinco minutos após a contracção da doença.
O administrador distrital da Ilha de Moçambique, Silvério João Nauaito, não confirmou a real existência de um surto de cólera em Lunga, daí que preferiu falar de boato que se propagou rapidamente junto das comunidades residenciais daquele posto administrativo. Com aquela realidade, as pessoas que queriam escapar da cólera, conseguiram convencer os marinheiros do barco de pesca a transportá-los para a sede da ilha de Moçambique, no sentido de terem acesso à unidade sanitária. Foi nestas circunstâncias que as mais de 100 pessoas entraram na embarcação.
Entretanto, já próximo à costa [fala-se de 100 a 150 metros da terra firme], na praia de Quissanga, Ilha de Moçambique, uma onda forte surpreendeu os marinheiros e todos que iam no barco. O forte embate fez com que o barco de pesca, com 130 pessoas virasse e naufragasse. Em meio a pedido de socorro e numa praia pouco frequentada e tida como perigosa para banhistas, registou-se o afogamento de maior parte delas.
O governador provincial, Manuel Rodrigues, o Secretário de Estado, Jaime Neto, e o ministro dos Transportes e Comunicações, Mateus Magala, deslocaram-se à Ilha de Moçambique para prestar algum tipo de solidariedade às famílias que perderam os seus entes queridos de forma bastante trágica.
Falando instantes depois de consolar os familiares das vítimas, Mateus Magala falou da necessidade de uma grande reflexão para evitar que cenários do género se repitam.
Os funerais de boa parte das vítimas foram realizados ainda ontem, perante lamentações e choros dos familiares e residentes da ilha de Moçambique.
Além de mandar uma equipa à província de Nampula, o Presidente da República, Filipe Nyusi, emitiu uma mensagem de solidariedade no início da tarde desta segunda-feira.
Por seu turno, os presidentes da Renamo e do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Ossufo Momade e Lutero Simango, respectivamente, emitiram, igualmente, notas de solidariedade e exigiram que o governo decrete luto nacional.
Do exterior, Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente de Portugal, enviou, logo pela manhã desta segunda-feira, uma mensagem de solidariedade ao Presidente moçambicano, pela tragédia registada na ilha de Moçambique. (mediaFAX)