A classe empresarial a operar no território moçambicano está a ressentir-se da escassez de divisas no mercado, realidade que constrange as suas operações comerciais com o exterior. A estimativa é que no período entre Janeiro e Fevereiro, tenha se registado uma queda média mensal de 2.3 por cento nas importações. Contabilizando todo primeiro trimestre do corrente ano, a redução foi de 2.5 por cento, isto numa perspectiva comparativa com o ano anterior.
Falando, nesta quinta-feira, em conferência de imprensa, Zuneid Calumia, vice-presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), que abordou o tema sobre divisas, a situação representa uma preocupação crescente dos agentes económicos, tanto por conta da redução das receitas nas exportações, assim como as medidas de restrição cambial adoptadas pelo Banco de Moçambique (BdM).
Entretanto, no geral, os empresários até aplaudem as medidas que têm estado a ser adoptadas pelo Banco de Moçambique para gerenciar a liquidez em moeda estrangeira no país.
Nisto, aponta a CTA, “o regulamento cambial estabelece que os bancos comerciais devem converter obrigatoriamente 30% da receita de exportação de seus clientes e a instituição enfatiza que os bancos comerciais têm exibido, em média, uma posição cambial positiva, indicando uma liquidez adequada para as necessidades do mercado”.
Entretanto, doutro lado, há um outro extremo. Apesar de os bancos comerciais reportarem posições cambiais positivas, enfrentam desafios na distribuição equitativa dessa liquidez.
O ponto é que após a retirada da provisão de divisas pelo Banco de Moçambique para o pagamento de importações de combustíveis, houve um aumento na demanda por divisas para suportar outras importações essenciais, como alimentos e medicamentos.
Em resultado, refere-se que a redução nas transacções no mercado cambial interbancário tem apresentado uma tendência preocupante, com uma queda acentuada de 78,6% no primeiro trimestre de 2024 em comparação ao ano anterior.
Em síntese, diz-se que a cobertura das exportações sobre as importações é significativamente menor, destacando um desafio estrutural na oferta de divisas. Por outro lado, a falta de divisas no mercado tem constrangido o processo de pagamento das facturas com o exterior.
“Descredibilidade dos fornecedores moçambicanos; multas por atraso de pagamento; falta de stock; atraso no fornecimento de serviços; atraso na expedição de equipamentos para Moçambique; queda da produção e de facturamento; falha no cronograma de conclusão dos projectos e aumento dos custos de implementação” – apontou aquele dirigente associativo, a lista dos constrangimentos na realização de pagamentos com o exterior.
A resolução da actual situação, na lógica da CTA, pode passar por reduzir o coeficiente das reservas obrigatórias em moeda estrangeira, que actualmente se situa em 39%, facto que concorria para libertar a liquidez para o mercado.
Acredita-se, entretanto, que a curto prazo, a situação possa melhorar com a retoma de grandes projectos e a entrada de fundos de organizações internacionais, como o FMI e o Banco Mundial.