O autodenominado Alto Comando Militar para a Restauração da Ordem Constitucional na Guiné Bissau acaba de tomar o poder no país, nesta quarta-feira, depois de um tiroteio que durou cerca de meia hora. No entanto, importantes sectores na Guiné Bissau argumentam que o golpe foi orquestrado por Umaro Sissoco Embaló, em conluio com o General Biaguê Na N’tam, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. A manobra tinha como objectivo impedir a publicação dos resultados eleitorais, que estava prevista para esta quinta-feira, que dariam vitória a oposição.
Segundo um comunicado das Forças Armadas guineenses lido na televisão estatal guineense TGB pelo porta-voz do Alto Comando Militar, Dinis N´Tchama, os militares assumiram a liderança do país. Dinis N´Tchama é chefe da Casa Militar, nomeado por Embaló.
Na comunicação informa-se que foi “instaurado pelas altas chefias militares dos diferentes ramos das Forças Armadas, o Alto Comando Militar para a restauração da segurança nacional e ordem pública” . No comunicado, afirma-se que o Comando Militar “acaba de assumir plenitude dos poderes de Estado da República da Guiné-Bissau”.
Na tarde desta quarta-feira, os chefes de Missão de Observação Eleitoral da União Africana, CEDEAO e o Fórum dos Anciãos da África Eleitoral emitiram uma nota manifestando preocupação com o anúncio de um golpe de Estado.
“Lamentamos que este anúncio tenha sido feito numa altura em que as missões acabavam de concluir os encontros com os dois principais candidatos presidenciais, que garantira a sua disponibilidade em aceitar a vontade do povo”, lê-se na nota assinada por Filipe Nyusi, antigo presidente moçambicano, que lidera a missão da UA, Issifu Kamara (CEDEAO), Goodluck Jonathan, antigo Presidente da Nigéria, em nome do Fórum dos anciãos.
No dia da votação, a missão da UA, liderada por Filipe Nyusi, havia considerado a votação como tendo sido “ordeira e pacífica”.
O Comando Militar informou igualmente que depôs o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, e que encerrou, “até novas ordens, todas as instituições da República da Guiné-Bissau”.
Informa igualmente que estão suspensas “as actividades de todos os órgãos de comunicação social”. Diz ainda que decidiu “suspender imediatamente o processo eleitoral em curso”.
Os militares encerraram também todas as fronteiras do país, terrestres, marítimas e espaço aéreo nacional. Estabeleceram “recolher obrigatório das 19:00 até 06:00, até repostas as condições necessárias para restaurar a normalidade constitucional do Estado guineense”.
O comunicado lido na TGB explica que a iniciativa é uma reação “à descoberta de um plano em curso de destabilização do país”, atribuído a “alguns políticos nacionais com a participação de conhecidos barões de droga nacionais e estrangeiros”.
Segundo os militares, o plano consistiria na “tentativa de manipulação dos resultados eleitorais” das eleições gerais de domingo, cuja divulgação estava prevista para quinta-feira.
“Foi descoberto pelo Serviço de Informação de Estado um depósito de armamento de guerra destinado à efectivação desse plano”, acrescenta o Alto Comando Militar.
O Alto Comando Militar exercerá o poder do Estado a contar da data de hoje “até que toda a situação seja convenientemente esclarecida e respostas as condições para o pleno retorno à normalidade constitucional”, acrescenta, apelando “à calma, à colaboração dos guineenses e compreensão de todos, perante a uma “grave situação imposta por uma emergência nacional”.