O antigo primeiro-ministro, Adriano Maleiane, alertou que Moçambique não conseguirá alcançar um desenvolvimento sustentável, enquanto persistir o desequilíbrio de género e os homens continuarem afastados da agenda de empoderamento feminino, defendendo que o progresso nacional depende de uma parceria real entre homens e mulheres.
“O empoderamento só será possível se também o homem entender a necessidade dessa parceria. A experiência diz que não há desenvolvimento sustentável se esta questão do género não for muito bem equilibrada”, afirmou Maleiane, que participava pela primeira vez.
Maleiane falava esta quinta-feira em Maputo, durante a 5.ª edição da masterclass nacional “Direito a Sonhar”, conferência dedicada ao empoderamento feminino no país, uma iniciativa da marca Confia.
Por sua vez, a fundadora da iniciativa, Eulalia Nhatitima, sublinhou que o crescimento do Confia se traduz em resultados tangíveis na vida de inúmeras mulheres.
“Estamos satisfeitas porque a marca Confia expande-se e cria espaço para que mais mulheres transformem as suas vidas. Nesta edição, pela primeira vez, trazemos homens ao painel porque não se desconstrói a agenda do empoderamento feminino sem eles”, explicou Nhatitima.
O projecto integra cinco componentes programáticas, educação, liderança, mentoria, saúde e bem-estar, e tem vindo a lançar acções de impacto directo, como o programa Mulher Coragem, que actualmente apoia cerca de 80 mulheres na Matola.
Uniões prematuras
Durante sua intervenção, a fundadora do Confia destacou uma das preocupações urgentes, o impacto das uniões e gravidezes prematuras no futuro do país.
“Quanto mais raparigas forem afastadas da escola e empurradas para casamentos prematuros, mais o país atrasa. Este é um entrave não só ao desenvolvimento da mulher, mas ao desenvolvimento nacional”, disse Nhatitima.
Nhatitima lembrou que o combate ao problema exige o envolvimento das comunidades, onde muitas práticas são ainda sustentadas por crenças culturais enraizadas.
Por sua vez, a madrinha do programa Confia, Ana Rita Sithole sublinhou a necessidade de país enfrentar com seriedade o feminicídio e a violência baseada no género, temas que considera centrais no debate sobre o empoderamento feminino.
“Este programa coincide com o mês de luta contra a violência baseada no género a nível internacional. É um momento para unir as mulheres e dar visibilidade às suas experiências,” afirmou Sithole, explicando que a iniciativa envolve jovens, mulheres do sector informal e de diferentes contextos, oferecendo capacitação e oportunidades para fortalecer a participação feminina.
Sithole afirmou que o país vive um momento que exige maior atenção e responsabilização, “o feminicídio é violência baseada no género e precisa de ser tratado com o rigor que merece. Ninguém deve ser submetido a este tipo de violação dos direitos humanos, afirmou, destacando que muitas situações não chegam aos tribunais com o devido enquadramento, o que limita a justiça para as vítimas.
No seu discurso, Sithole reiterou que o enfrentamento da violência de género, aliado à educação e ao fortalecimento da participação feminina nos espaços de decisão, é indispensável para o progresso do país.
“Queremos que se implemente os direitos que devem ser, para as mulheres terem acesso aos níveis de tomada de decisão, o ponto mais alto que é a política. É a Assembleia da República, o nível mais alto de tomada de decisão em qualquer parte do mundo. A tomada de decisão ao mais alto nível exige a participação das mulheres. Onde elas contribuem, há maior possibilidade de progresso colectivo”, explicou Sithole.
Ao explicar a sua adesão ao Confia, afirmou que o programa procura motivar e abrir caminhos para que mais mulheres assumam os seus projectos e objectivos, “é fundamental que cada mulher reconheça o seu papel na mudança. O empoderamento começa pelo reconhecimento desse potencial”.
A conferência, contou pela primeira vez com a presença de figuras de destaque do panorama nacional, entre elas o antigo primeiro-ministro Adriano Maleiane, a antiga ministra da Justiça, Helena Kida, e o reitor da Universidade Pedagógica de Maputo, Jorge Ferrão, numa demonstração clara de que a agenda da igualdade de género exige também o compromisso activo de vozes masculinas em posições de decisão.
(Helena Madança)