“Os jovens são a maioria e carregam sobre os ombros a responsabilidade de garantir o futuro de Moçambique e do continente africano”, declarou o sociólogo moçambicano Elísio Macamo, apontando que em tempos de crise política e social cabe às novas gerações erguer a voz da razão num país profundamente polarizado.
As declarações foram feitas esta terça-feira, em Maputo, durante a Oficina de Ideias do Manifesto Cidadão, subordinada ao tema “Responsabilidade da Juventude em Tempos de Crise”, que reuniu estudantes universitários, académicos e activistas, entre eles Francisca Noronha, num debate que buscou analisar criticamente o papel da juventude na construção da democracia e na resposta aos desafios que o país enfrenta.
“Quando há polarização, o diálogo torna-se impossível. Cada um só ouve a sua própria voz. Alguém tem de trazer a razão, e esse alguém são os jovens”, reforçou Macamo, lembrando que o Estado não deve ser visto como uma entidade distante, mas sim como um processo em construção do qual a juventude é parte central.
Na sua intervenção, o académico criticou a fragilidade das instituições, a relação de desconfiança entre polícia e cidadãos e a recente dependência de forças militares estrangeiras para responder à crise em Cabo Delgado. Para Macamo, a visita do Presidente da República ao Ruanda “não reforçou relações, mas cimentou a dependência de Moçambique em matéria de segurança. E ninguém sabe em que condições os ruandeses vieram ao país, porque nunca houve debate parlamentar sobre isso”, frisou, destacando que as decisões desta envergadura deveriam ser discutidas no Parlamento como forma de prestar contas ao povo.
O sociólogo também abordou a crise de confiança entre polícia e cidadãos, após episódios de violência, em que tanto agentes como populares recorreram a actos extremos.
“O que vimos não foi apenas violação de direitos, foi desumanização. Tanto a polícia, ao disparar indiscriminadamente, como a população, ao queimar um agente, agiram de forma racional, mas não razoável. E quando a sociedade perde a razoabilidade, perde também a sua humanidade”, disse Macamo.
Macamo encerrou sublinhando que a juventude deve adoptar uma ética da responsabilidade, sustentada em três pilares fundamentais: cobrar ao governo, respeitar limites mútuos e construir um ambiente democrático de convivência sã. Para ele, o verdadeiro teste da cidadania não está apenas em pagar impostos ou reivindicar direitos, mas em respeitar o outro e em aspirar a ser uma melhor versão de si próprio.
“A grande responsabilidade da juventude é não se deixar aprisionar pela ética da convicção, que justifica todos os meios para atingir um fim, mas sim abraçar a ética da responsabilidade. Só assim os jovens poderão ser construtores da democracia e guardiões do futuro de Moçambique”, concluiu.
(Helena Madança)