O director do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), Euclides Gonçalves, considera que o espaço cívico em Moçambique enfrenta um cenário precário, como parte dos desafios de ordem política prevalecentes.
“Hoje, o trabalho do IESE tem que encarar um contexto em que se apresentam desafios de ordem política, sob forma de crises eleitorais, violência armada e um espaço cívico ao mesmo tempo vibrante e precário”, afirmou Gonçalves.
Aquele académico falava na VII Conferência Internacional do IESE, subordinada ao tema “Moçambique, 50 Anos de Independência”, que decorreu entre os dias 23 e 24 deste mês.
Segundo Euclides Gonçalves, o país debate-se igualmente com desafios no plano económico e o conhecimento e as políticas públicas fazem pouco para reduzir as desigualdades sociais e desemprego, em particular para a população jovem.
Por outro lado, prosseguiu, também se debate com uma problemática de ordem tecnológica e os benefícios gerados pelo desenvolvimento tecnológico colocam os moçambicanos quase que exclusivamente na categoria de consumidores, numa economia global que oferece aspirações, que não têm condições de alcançar.
“Neste contexto, Moçambique precisa de reabilitar a sua relação com o conhecimento científico e construir uma relação com múltiplos saberes”, enfatizou.
Essa responsabilidade é de todos, mas apresenta-se de forma particular para os pesquisadores e outros profissionais do conhecimento, continuou.
“Precisamos de investir numa arqueologia do saber que nos permita buscar inspiração numa multiplicidade de arquivos existentes e que se vão construindo no dia-a-dia”, frisou.
Para Euclides Gonçalves, o lema da conferência, “Moçambique, 50 anos de Independência”, deve ser um marco histórico que justifica uma pausa para reflexão sobre o percurso histórico do país.
“Assim, decidimos colocar em perspectiva as políticas públicas para a transformação social”, frisou.
A segunda razão é que para o IESE, 2025 é um ano de transição para um novo ciclo de planificação estratégica de 10 anos que iniciará em 2026 e é uma oportunidade para uma reflexão sobre o próprio trabalho da organização, o lugar da produção de conhecimento em Moçambique e como através desse exercício se situa no continente e no mundo.
Repensar o paradigma do desenvolvimento
– Achille Mbembe
Por seu turno, o Professor e investigador camaronês Achille Mbembe, disse, na abertura da conferência, que África deve repensar os paradigmas de desenvolvimento humano e económico, propondo uma agenda de pesquisa autónoma, “decolonial e ecocentrada”.
Mbembe realçou que os maiores desafios do continente residem na esfera biofísica e ambiental, exigindo modelos capazes de reduzir vulnerabilidades climáticas, valorizar o capital natural e integrar políticas de saúde pública com saúde ecológica numa perspectiva interespécies.
Enfatizou ainda a importância do trabalho produtivo e da criação de novas formas de emprego, alertando para os limites do mercado como solução única.
Aquele investigador sublinhou que a crise democrática e o regresso dos golpes militares requerem reinventar a democracia, descentralizar o poder e formular um contrato social sustentável que inclua humanos e não humanos.