Os militares moçambicanos estacionados na vila de Mocímboa da Praia, para juntamente com os ruandeses lutarem contra o terrorismo na província de Cabo Delgado, podem estar a fazer uma campanha contra as últimas acções de carácter sociais das tropas de Kigali na sede distrital.
Fontes anotaram à Zitamar que várias vezes, os militares moçambicanos são ouvidos a falarem palavras ou comentários como “onde vocês viram um militar a construir mercado?”, fazendo entender que a sua intervenção devia limitar-se às questões militares.
Os murmúrios vindos de militares moçambicanos contra os ruandeses subiram de tom quando recentemente os homens de Paul Kagame, entregaram salas de aula à comunidade de Ntotwe e material escolar, num acto testemunhado pelo administrador de Mocímboa da Praia e já esta semana, um mercado para o município acolher vendedores informais que não tinham condições seguras para expor os seus produtos.
Além desta actividade, esta terça-feira, a presidente do Conselho Municipal, Helena Bandeira, também reconheceu que as tropas ruandesas ofereceram congeladores e geleiras para os comerciantes que se dedicam à venda de frescos com destaque para o pescado, uma reivindicação antiga dos que se dedicam à faina do mar.
A divergência entre as tropas ruandesas e moçambicanas, embora menos falada, pode não ser problema novo. No passado, a população de Mocímboa da Praia até desejou ou ameaçou abandonar a vila caso o governo decidisse retirar as forças ruandesas e manter apenas as nacionais.
Em jogo, conforme entende a Zitamar News, está relacionado com as frequentes situações de violação dos direitos humanos por agentes da força moçambicana, que também não falam habitualmente o kiswahili, a língua franca que as tropas ruandesas usam para se comunicarem com a população.
Aliás, a narrativa de ameaça ou alegação de abandono caso as forças ruandesas saiam em Mocímboa da Praia dando maior espaço às nacionais prevalece até hoje, confirmou um comerciante informal residente no bairro Milamba.
“Os ruandeses são a voz que temos aqui, que estamos a nos entender, pior o município ainda não faz trabalho, só esta semana iniciou cobranças de taxa diária. Nós achamos que estes ruandeses vieram estabelecer a paz, é por isso quando capturam os malfeitores não matam de qualquer maneira, estão a pôr em cárcere para responderem, esses não vieram fazer guerra, mas estabelecer paz, paz é que queremos. Até hoje nós dizemos que estamos com eles, mas se eles hoje saírem aqui nós não teremos paz, porque a nossa força gosta de extorsões, mas desde que eles estão aqui não há essas coisas de qualquer maneira, estamos mais seguros do que antes. Antes como vendedor ambulante não seria possível. Eu vendo produtos vindos de Nampula, a pessoa que me manda às vezes nem anexa a factura, mas não é problema, mas se fosse com a nossa força seria problema, devia tirar dinheiro, então só fazem má propaganda para eles”.
Conquistar “mentes e corações”
A Zitamar tem as identidades das pessoas ouvidas, mas não divulga os nomes pois esta é uma questão sensível nas zonas de guerra. Foi igualmente relatado a Zitamar que depois dos pronunciamentos a favor dos ruandeses, as estrututuras políticas locais tentaram convencer os líderes tradicionais a manterem-se distantes das tropas ruandesas “porque eles só estão de passagem”. Habitualmente, as reuniões com os ruandeses têm tido muito maior aderência. Falar com os líderes tradicionais faz parte da sua companha de conquistar “mentes e corações”. Em Mocímboa, há vários relatos de insurgentes que quando se querem entregar, mandam um familiar contactar a tropa ruandesa para serem recolhidos por eles.
Coincidência ou não, nos dias que correm a população local não se tem simpatizado com o administrador distrital Sérgio Cipriano, por alegada falta de aproximação com a população. Numa reunião com a presidente do município, um interveniente chegou a sugerir que o administrador fosse transferido para outro lugar.
No contexto dos ataques terroristas, as FDS (forças de defesa e segurança) moçambicanas foram várias vezes apontadas de raptos, detenções arbitrárias, maus tratos, violação sexual e acusações aos jovens locais de colaboração com terroristas.
De uma forma mais ampla, as redes sociais veiculam opiniões hostis à presença ruandesa em Cabo Delgado, incluindo de sectores dentro do partido Frelimo, uma forma de atacar a governação do presidente Filipe Nyusi e a não divulgação pública dos termos do acordo de segurança com Kigali.
Durante a realização da reunião do Comité Central da Frelimo, em Maio, foi circulado que as instalações da escola do partido estavam protegidas por um contingente militar ruandês. Mas não foi encontrada qualquer evidência da presença de tropas ruandesas na zona de Maputo.
(Por Alime Abucrare –Serviço Zitamar News/SAVANA. Título da nossa responsabilidade)