Enquanto os holofotes estão virados para a tensão pós-eleitoral que agita o país, com destaque para as cidades como Maputo, os insurgentes, em Cabo Delgado, não desarmam. Mesmo com o reforço de tropas ruandesas, particularmente no distrito de Macomia, os “al-shabaab” continuam a lançar ataques até nas áreas sob controlo dos temidos militares ruandeses. Nos últimos tempos, os “al-shabaab” estão a fazer uma série de ataques nas aldeias, numa guerra de baixa intensidade, mas suficiente para semear terror sobretudo nas comunidades.
Longe dos holofotes, os insurgentes estão a se desdobrar em vários distritos de Cabo Delgado, casos de Macomia, Mocímboa da Praia, Muidumbe e até Nangade, Mueda e Meluco. Uma das recentes incursões dos “al-shabaab” ocorreu em Miangalewa, distrito de Muidumbe. Até à hora do fecho da edição, não havia registo de vítimas mortais do ataque ocorrido na noite da última segunda-feira, 4 de Novembro.
Embora sem vítimas, o ataque causou terror no distrito de Muidumbe. Na sequência, Namakande, a vila sede distrital, ficou praticamente paralisada, pelo menos ao longo desta terça-feira. Vários funcionários tiveram de interromper suas actividades pelo receio da circulação do inimigo na região. Populares tiveram de abandonar suas casas à procura de refúgio.
Na mesma segunda-feira, os insurgentes penetraram no distrito de Nangade. À hora do fecho da edição, também não havia relatos de vítimas mortais, mas um grande pandemónio havia se instalado no distrito que vinha experimentando uma relativa tranquilidade, depois de, nos anos passados, ter sido um dos epicentros da guerra que se arrasta há mais de sete anos, em Cabo Delgado. Os insurgentes terão entrado no território de Nangade a partir da aldeia Quinto Congresso, tendo depois seguido para as aldeias Machava, Mtipuedi, Eduardo Mondlane e até arredores da aldeia Litingina.
Na manhã desta quarta, os insurgentes foram vistos na aldeia Litingina, onde terão recolhido bens da população. “Neste momento, a situação está tensa. A população está a abandonar para aldeias próximas, que acham ser seguras”, reportou-nos, na manhã desta quarta-feira, uma fonte local. Tal como em Muidumbe, a população, em Nangade, teve de abandonar suas aldeias à procura de refúgios. Alguns foram encontrar refúgio no vizinho distrito de Mueda. “A circulação de viaturas de Nangade a Mueda também está interrompida e não há alternativa”, acrescentou a mesma fonte.
O medo causado pela presença dos insurgentes está a afectar quase todas as actividades no distrito. Uma delas é a comercialização da castanha de caju, neste distrito que é um dos principais produtores deste produto. A título de exemplo, os camiões que deviam transportar a castanha foram abandonados pelos condutores que foram à procura da sua protecção. A própria sede do distrito está em alerta, com vários deslocados a chegarem ao local. À hora do fecho, informações ainda por confirmar davam conta de um ataque sobre a aldeia Litingina.
Sucessão de ataques
Estes ataques seguem-se a uma série de outros que os “al-shabaab” têm vindo a lançar nas últimas semanas, semeando terror sobretudo no seio das comunidades. Muitos dos ataques concentraram-se em aldeias próximas à Estrada Nacional Número 380 (EN380). No dia 23 de Outubro, por exemplo, os insurgentes mataram pelo menos três pessoas, dois homens e uma mulher, em Awasse, como é vulgarmente conhecida a localidade de Nango, situada ao longo da EN380, no entroncamento para Mocímboa da Praia, Mueda e outras partes do Norte de Cabo Delgado.
No dia 24, os insurgentes mataram uma pessoa na aldeia Mumu, também situada em Mocímboa da Praia. O Estado Islâmico reivindicou ter queimado mais de uma dezena de casas e ferido uma pessoa. Neste mesmo dia, os “al-shabaab” também atacaram a aldeia Mitope, igualmente em Mocímboa. Não houve reporte de vítimas. Os ataques também afectaram as áreas à volta do Rio Messalo, que separa os distritos de Muidumbe e Macomia.
No dia 25 de Outubro, por exemplo, o Estado Islâmico reivindicou ter incendiado várias casas em Nkoe, uma aldeia de Macomia. No dia 26, os insurgentes decapitaram pelo menos um homem na aldeia Mandela, do lado de Muidumbe. De Mandela, os insurgentes terão penetrado para o histórico distrito Mueda, um dos menos afectados pela insurgência. Foi assim que, no dia seguinte aos acontecimentos de Mandela, eles terão morto pelo menos uma pessoa, em Homba, Mueda. A vítima terá sido encontrada numa machamba.
Quase na mesma altura, os insurgentes atacaram a aldeia Xassassa, no distrito de Meluco, mais para o Sul de Cabo Delgado. Não houve relatos de vítimas, mas o ataque causou pânico, levando a deslocação da população. Até mesmo residentes de Minhanha, uma aldeia de Meluco anteriormente atingida pela insurgência, também foram à procura de locais seguros. No fim do mês de Outubro, pelo menos duas pessoas terão sido decapitadas em Marere, novamente em Mocímboa da Praia. Também no fim do mês, um carro civil, Toyota Land Cruiser, terá sido atacado no troço entre Chinda e Mbau, após ter accionado um engenho explosivo. O ataque, por homens armados, ocorreu imediatamente depois de ter accionado o explosivo. Como resultado, houve duas mortes, entre elas o chefe da secretaria do Posto Administrativo de Mbau. A outra vítima foi o condutor da viatura, também um civil.
Alvos militares
Embora visando maioritariamente civil, os ataques também têm visado alvos militares. Há, inclusivamente, confrontos pesados entre os insurgentes e os todo-poderosos ruandeses. Cerca de três meses depois do início da “megaoperação” ruandesa na costa de Macomia, visando libertar os Postos Administrativos de Mucojo e Quiterajo, continua a haver confrontos como inimigo. Em Outubro, os insurgentes foram ao extremo de atingir colunas ruandesas. No dia 14 de Outubro, por exemplo, o Estado Islâmico reivindicou dois ataques com engenhos explosivos contra tropas ruandesas e moçambicanas, entre as aldeias Manica e Napala, não muito distante da sede do Posto Administrativo de Mucojo. De acordo com a reivindicação, um veículo blindado ficou danificado e vários soldados ficaram feridos.
No dia 26 de outubro, o ISIS reivindicou a morte de vários soldados ruandeses e moçambicanos, numa emboscada na aldeia Nagulue, a Norte de Mucojo. Na referida emboscada, os insurgentes terão usado armas pesadas e engenhos explosivos. Também ao longo do mês de Outubro, os insurgentes reivindicaram ter morto um soldado num confronto com as tropas moçambicanas e ruandesas, na aldeia Limala, cerca de 30 km a Sul da vila de Mocímboa. (Armando Nhantumbo)