O presidente do Conselho Municipal de Maputo, Rasaque Manhique, visitou esta terça-feira o mercado Grossista do Zimpeto para ouvir as preocupações dos vendedores e identificar, no local, os problemas que precisam de solução. Em conversa com retalhistas e grossistas, defendeu a reorganização do espaço e a retirada de obstáculos e viaturas abandonadas que dificultam o funcionamento do mercado, garantindo que ninguém vai perder sua banca após os trabalhos de limpeza e reestruturação.
Manhique afirmou que tudo o que a edilidade quer realizar é para beneficiar a população, pois, o mercado pertence ao povo e o desenvolvimento só acontece quando todos estão num lugar com boas condições.
O Edil de Maputo explicou que a visita foi motivada por tumultos gerados após o anúncio de dois dias de limpeza (terça e quarta-feira), organizados por algumas pessoas que alegaram que a edilidade pretende tomar as bancas dos vendedores que exercem as suas atividades no mercado.
“A nossa ação de limpeza e organização do mercado estava prevista para ontem e hoje. Mas se calhar não tivéssemos explicado bem as pessoas. E aquele que é aproveitador e é desinformado correu, alegando que quiséssemos retirar as pessoas do mercado. Não é verdade. Estamos aqui hoje a explicar as pessoas, a explicar a nossa população que não, ninguém vai sair, ninguém vai perder sua banca, mas temos que organizar o mercado”, assegurou Rasaque Manhique, numa tentativa de dissipar rumores e desconfianças que já começavam a circular.
Manhique percorreu por quase todo o mercado Grossista do Zimpeto, onde analisou igualmente as condições de limpeza e higiene nas casas de banho.
“Aqueles sanitários onde tem comida, onde temos alimentos que vão às nossas casas, que vão às casas dos moçambicanos, é importante que tão depressa quanto possível, façamos ali uma intervenção”, disse.
Perda de identidade
Para o chefe da Comissão do Mercado, Constâncio Sumbane, a movimentação não é apenas simbólica. A limpeza marcada para os dias 19 e 20 de Maio foi decidida em consenso com os comerciantes. Durante esses dois dias, o mercado será fechado ao público. “Será uma limpeza total, com apoio logístico e material do Conselho Municipal. Ninguém perderá a banca”, garante.
Mas a tranquilidade não é unânime. Com mais de três mil comerciantes a operar diariamente, o mercado enfrenta desafios graves como a desorganização do espaço, perda de identidade como grossista e queixas recorrentes sobre segurança e saneamento.
Uma vendedora, que preferiu não se identificar, que trabalha no mercado há mais de 16 anos, faz um desabafo, “o mercado perdeu a postura. Já nem sei se é grossista ou retalhista. Nem os carros, conseguem entrar, hoje circular aqui tornou-se difícil.” A denúncia vai além do excesso de comerciantes informais fala-se em insegurança, em roubos, em ruas entupidas e promessas de mudanças que nunca saíram do papel. Além do lixo acumulado, a fonte conta que a criminalidade aumentou muito naquele mercado, especialmente depois que dois postos policiais no mercado foram vandalizados em Novembro último.
Na ocasião, Sumbane reforçou o compromisso de colaboração com a administração. “Fizemos um trabalho de sensibilização para reduzir as importações e vender os stocks actuais, de forma a facilitar a intervenção. Todo o mercado será abrangido, sector por sector”, revelou.
Apesar das promessas e da presença do mais alto dirigente municipal, os vendedores mostraram-se cautelosos. Pedro Machava, há 16 anos no mercado, destacou questões sensíveis como o preço do saneamento, e a frágil segurança.
“O saneamento ainda é um desafio. Pagar 10 meticais para usar a casa de banho quatro vezes ao dia é impossível”. Ele olha para a visita com cepticismo, mas não esconde a esperança. “Esperamos que desta vez não seja só mais uma visita. Esperamos que agora algo mude”, afirmou.
Os trabalhos começam já na próxima segunda-feira, e o mercado ficará fechado por dois dias para permitir a reorganização.
De acordo com a edilidade, a limpeza e a reorganização do mercado envolve também a reabilitação dos sectores da administração, da polícia, de proteção e municipal, que foram destruídos durante as manifestações de Dezembro passado.
Inaugurado a 28 de Maio de 2007, o Mercado Grossista do Zimpeto foi concebido para concentrar a venda a grosso de produtos, transferindo vendedores de mercados como o da Malanga. No entanto, ao longo do tempo, o espaço passou também a acolher vendedores a retalho, o que acabou por marcar o seu funcionamento. Esta mudança trouxe consigo desafios de organização e higiene, como o acúmulo de lixo, maus odores e a degradação das infraestruturas, devido à falta de manutenção.
De referir que na última sexta-feira, 09 de Maio, alguns vendedores que se opõem ao encerramento do mercado bloquearam a Estrada Nacional Número 1 durante cerca de 30 minutos. A ação levou à intervenção da Unidade de Intervenção Rápida, que foi chamada para dispersar os manifestantes.
Segundo nota divulgada pela edilidade, as actividades previstas incluem a desobstrução das vias de acesso, a retirada de lixo e veículos abandonados, além da demarcação e nivelamento das áreas propensas a inundações.
Por Helena Madança