O Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ) e o Instituto de Comunicação Social da África Austral (MISA) exigiram, nesta quinta-feira, às autoridades moçambicanas “respostas credíveis” sobre o paradeiro dos jornalistas Ibraimo Abú Mbaruco e Arlindo Chissale, “desaparecidos em circunstâncias semelhantes no nordeste de Cabo Delgado”.
“O Comité para a Proteção dos Jornalistas [CPJ) e o capítulo moçambicano do Instituto de Comunicação Social da África Austral [MISA] apelam às autoridades para que forneçam respostas credíveis sobre o paradeiro de dois jornalistas, Ibraimo Abú Mbaruco e Arlindo Chissale, ambos desaparecidos em circunstâncias semelhantes na região em conflito de Cabo Delgado, no nordeste de Moçambique”, referem as duas organizações, em comunicado.
Na nota, Ângela Quintal, directora regional do CPJ para África, afirma que as famílias dos dois jornalistas estão devastadas com o desaparecimento dos seus familiares e com a incapacidade do governo de investigar devidamente os dois casos.
“A sugestão de cumplicidade militar é mais um sinal condenatório de que Moçambique não é um país seguro para jornalistas”, declarou Quintal.
Por seu turno, Ernesto Nhanale, director executivo do MISA Moçambique, afirmou que o Governo do Presidente Daniel Chapo deve fornecer respostas sobre o paradeiro de Mbaruco e Chissale, como parte de um esforço mais amplo para tranquilizar os jornalistas moçambicanos quanto à sua segurança e liberdade.
“É estranho e não faz sentido que o desaparecimento de um jornalista tenha sido arquivado sem esgotar todas as linhas de investigação técnica e independente. Esta decisão revela a falta de interesse do Estado moçambicano em esclarecer crimes contra jornalistas, incluindo o caso de Arlindo Chissale, sobre o qual, após oito meses, as autoridades permanecem em silêncio e indiferentes”, afirmou Nhanale.
CPJ e MISA lembram que durante uma visita, em Fevereiro, a Pemba, Daniel Chapo apelou aos jornalistas para que “continuassem a fazer o seu trabalho, com excelência”.
Mas numa carta enviada ao Presidente moçambicano, em Março, o CPJ afirmou que seria “difícil” para os repórteres cumprir a directiva presidencial, enquanto houver um ambiente de medo e o seu Governo não tomar “medidas significativas para investigar e responsabilizar os responsáveis pelo desaparecimento dos jornalistas Ibraimo Mbaruco e Arlindo Chissale”.
As duas organizações recordam que Mbaruco, repórter e apresentador de notícias da Rádio Comunitária de Palma, foi visto pela última vez a sair do seu escritório, em 7 de Abril de 2020, por volta das 18:00.
Pouco depois, enviou uma mensagem de texto a um colega, dizendo que estava “cercado por soldados”.
Nos dias que se seguiram ao desaparecimento do jornalista, a família e os colegas enviaram-lhe, repetidamente, mensagens de texto e tentaram ligar para o seu telemóvel, mas este estava desligado.
O telemóvel foi ligado, novamente, em 8 de Junho de 2020, de acordo com o MISA Moçambique.
A organização informou as autoridades sobre este desenvolvimento e apelou-para que se utilizasse tecnologia de geolocalização para rastrear os movimentos do jornalista.
Um agente da polícia, que falou sob condição de anonimato, disse ao MISA Moçambique que os soldados levaram Abú Mbaruco para Mueda, uma cidade a cerca de 300 quilómetros de Palma, para interrogatório.
Desde então, não se sabe nada sobre ele.
Sobre Arlindo Chissale, o CPJ e o MISA lembra que, no dia 07 de Janeiro de 2025, o editor do site Pinnacle News estava na aldeia de Silva Macua, quando um grupo de oito homens, alguns vestidos com uniformes das Forças de Defesa e Segurança lhe ordenou que saísse de um mini-autocarro público.
Quanto a Arlindo Chissale, ele recebeu uma dica de que estava em risco e numa “lista de alvos a abater” oficial horas antes do seu desaparecimento.
Nos meses que antecederam o seu desaparecimento, ele publicou comentários políticos sobre as contestadas eleições de Outubro de 2024 em Moçambique, expressando notavelmente apoio à oposição e acusando o partido governante Frelimo de fraude eleitoral.
O CPJ e o MISA Moçambique documentaram significativas violações da liberdade de imprensa durante a crise pós-eleitoral.
Arlindo Chissale já tinha enfrentado ameaças e assédio relacionados com o seu trabalho anteriormente.
Em Novembro de 2022, Chissale foi detido durante seis dias, inicialmente acusado de terrorismo, mas posteriormente acusado de trabalhar sem acreditação jornalística.