O presidente da República, Daniel Chapo, reconheceu nesta quinta-feira, durante às cerimónias centrais de celebração do 61° aniversário das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), que os esforços no combate ao terrorismo, que desde 2017 assola a nortenha província Cabo Delgado, não têm sido suficientes.
Apontou para a necessidade de um maior investimento nas FADM visando o reforço da sua capacidade operacional. Desafiou as lideranças das FADM a colocarem na frente de combate, no Teatro Operacional Norte, todos os elementos das Forças de Defesa e Segurança, sublinhando que isso é inegociável, numa clara mensagem de que não há filhos e enteados no seio das forças armadas.
O município da Matola, na província de Maputo, acolheu às cerimónias centrais que marcaram o dia das FDM, que decorreram sob o lema “FADM 61 anos Servindo com Honra, Defendendo com Coragem e Unidos pelo Patriotismo”.
No seu discurso de ocasião, na qualidade de comandante-chefe das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, Chapo reconheceu de imediato as limitações operacionais, sobretudo face aos recentes ataques terroristas em Cabo Delgado, que têm colocado em causa a eficácia da estratégia militar em curso.
O discurso do chefe de Estado é proferido numa altura em que os ataques dos grupos armados regressaram em força na Mocímboa da Praia, fazendo ecoar os alarmes sobre a segurança pública naquele ponto do país.
Num espaço de 15 dias, o grupo jihadista que, desde 5 de Outubro de 2017, tem semeado terror e instabilidade na zona nortenha do país, protagonizou dois ataques à vila-sede de Mocímboa da Praia, resultando em nove mortes, das quais sete por decapitação, para além de sequestros e posteriores cobranças de valores monetários para o resgate.
O ataque é visto como um desafio à estratégia de combate ao terrorismo, tendo em conta que a temível força do Ruanda tem uma base instalada naquele ponto que faz patrulhas 24 horas por dia.
Ataques esporádicos
O chefe de Estado reconheceu a pressão operacional decorrente dos ataques esporádicos dos terroristas, que passaram a realizar acções que incluem a colocação de engenhos explosivos improvisados em algumas estradas, com o objectivo de conter o avanço operacional das FADM.
Esta táctica, segundo Chapo, visa condicionar a circulação de viaturas em algumas estradas e caracteriza-se por ataques e saques, bem como pela realização de incursões para saquear produtos alimentares da população, a fim de reforçar a logística dos terroristas, e pelo sequestro de cidadãos, maioritariamente pescadores, com confiscação dos seus bens e cobrança de valores monetários para a sua libertação.
“Estes desafios imperam a necessidade de investimento nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique para o reforço da sua capacidade operacional com vista a persuadir, dissuadir e deter qualquer tipo de ameaça em Cabo Delgado”, afirmou Chapo.
Acrescentou que a realidade tem demonstrado que o esforço empreendido não tem sido suficiente para fazer face aos desafios do momento no terreno.
Estratégia de “incineração” do terrorismo
Por isso, ao comemorar o 61º aniversário das FADM, Chapo afirmou que as tropas devem ser orientadas pelos três pilares que regem as FDS para encontrarem estratégias que permitam a “incineração” do terrorismo no país.
“Reconhecemos a complexidade desta missão, mas também sabemos que ao longo destes anos adquiriram experiência, criaram estruturas e formamos muitos quadros nas academias capazes de enfrentar esses desafios com maestria”, disse Chapo.
O presidente exigiu ao ministro da Defesa Nacional, Cristóvão Chume, ao chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, Júlio Jane, e aos oficiais generais, superiores e subalternos, para destacarem os melhores quadros já formados para o Teatro Operacional Norte.
Por conseguinte, Chapo levantou a questão dos supostos privilégios na distribuição de efectivos para o teatro de operações, com quadros importantes a manterem-se longe do conflito.
Chapo foi categórico ao afirmar que: “o terrorismo não se vence deixando os melhores militares, os melhores quadros, os familiares ou os filhos dos chefes nos gabinetes. Todo cidadão que faz parte das Forças de Defesa e Segurança deve ir ao Teatro Operacional Norte, isto é inegociável”, disse.
Entretanto, o estadista afirmou que as FADM devem estar na linha da frente no combate ao terrorismo, numa altura em que Cabo Delgado conta com a participação das forças militares do Ruanda e da Tanzânia, que, em conjunto com as FDS, combatem o terrorismo.
Na mesma ocasião, reconheceu alguns progressos assinaláveis: “As nossas tropas têm-se destacado pela coragem, disciplina e resiliência, recuperando territórios notoriamente ocupados, permitindo o regresso seguro das populações às suas zonas de origem e restaurando a autoridade do Estado nas regiões afectada”.
Chapo sublinhou que aqueles desafios, embora distintos entre si, são igualmente reais e exigentes, e mostram que as FADM permanecem firmes, adaptáveis e prontas para responder aos apelos da nação, seja na defesa da soberania, na manutenção da paz, no apoio humanitário ou na luta contra ameaças emergentes.
Apesar dos ataques terroristas, que têm semeado instabilidade em Cabo Delgado, Chapo assinalou que não restam dúvidas que a segurança melhorou, significativamente, nos últimos quatro anos. Sublinhou que, actualmente, existem condições básicas para a circulação de pessoas e bens com relativa segurança, apesar dos ataques esporádicos dos terroristas.
Para além da deposição de coroa de flores, discurso de ocasião, as cerimónias centrais de celebração de 25 de Setembro foram marcadas pelo desfile militar, protagonizado pelos diferentes ramos das FADM, numa demonstração de prontidão combativa.